Os temas que mais fazem sucesso no meu canal do youtube e aqui no blog são sempre os que eu falo sobre dinheiro. Isso é um fato. 

Isso é bastante curioso pois, via de regra, o brasileiro não gosta de falar sobre dinheiro. Por exemplo: as pessoas não falam para os que confiam o quanto elas ganham. Também não discutem estratégias, não questionam sobre como ganhar mais…

As pessoas falam abertamente sobre sexo, mas não falam abertamente sobre dinheiro. Definitivamente este é um assunto tabu.

Eu arrisco algumas justificativas para isso. A primeira delas é que, como diria Tom Jobim, “no Brasil, sucesso é ofensa pessoal”. Como o assunto não é discutido abertamente, criam-se mitos e crenças em torno. “Quem ganha dinheiro mexe com coisa errada”, ou então “depois que fulano ganhou dinheiro, esqueceu dos pobres”.

A minha vida mudou drasticamente depois que eu passei a encarar o dinheiro de maneira séria. Ganhar dinheiro é muito bom e não há absolutamente nada de errado com isso. Além disso, como em qualquer outra área da vida, quanto mais discutimos sobre um assunto, mais aprendemos sobre ele. 

É por isso que este é um dos meus temas preferidos. Ao falar sobre dinheiro, eu ajudo a todos que tem a vontade genuína de melhorar de vida, mas ainda não perderam totalmente o medo do julgamento alheio. Me ajuda também a consolidar as minhas ideias sobre o assunto. E, por último, e não menos importante, cutuca a ferida dos que sofrem do famoso “nojinho do dinheiro”.

É por isso que hoje eu quero te explicar porque você deve dobrar o seu salário o mais rápido possível.

O problema em ser frágil

Lá vou eu abrir novamente um texto falando sobre Taleb (aliás, se você acompanha meu blog há algum tempo e ainda não leu nenhuma obra do Taleb, shame on you).

Sempre procuro abordar os cenários da minha vida usando os conceitos de antifragilidade do Taleb. O objetivo é me envolver em cenários com alto grau de assimetria, onde a vantagem supere o risco. Com dinheiro eu também lido dessa forma.

O afegão médio (termo que me foi apresentado pelo excelente Emílio Surita para representar o brasileiro comum) vive de salário em salário. Não raro, vive de mês em mês, chegando ao dia 30 com o saldo bancário zerado. As vezes, nem no fim do mês o salário chega.

O afegão médio quase sempre não conhece o termo “colchão financeiro”. Quando conhece, quase sempre não possui um. O afegão médio também não sabe quanto gasta no mês, simplesmente porque não controla seus gastos. O afegão médio também adora uma parcela. O tamanho dos juros não importa, desde que a parcela caiba no orçamento (como se soubesse seu orçamento). 

Qual o resultado disso? O afegão médio quase sempre não possui patrimônio, ou pior, possui patrimônio negativo. Neste cenário, a pessoa se encontra em uma posição completamente frágil.

Imagine que você está de carro zero na garagem, “casa própria” (entre aspas sim, pois ela só é própria depois que você termina de pagar) toda mobiliada, mas não tem dinheiro guardado. De repente, você perde seu emprego. Como você vai pagar a parcela do carro? A parcela da casa? 

Imagine um cenário ainda pior: você perdeu o emprego e aparece um problema grave de saúde, com um tratamento caríssimo. Como você vai agir?

Como diz o Ray Dalio – e o Taleb concorda com ele – nunca podemos nos expor a riscos que possam nos levar a ruína. No cenário acima, você corre um sério risco de não sobreviver, seja financeiramente, em um sentido figurado, ou seja até no sentido literal: perder sua vida.

Com um bom colchão de segurança você conseguiria diminuir este risco consideravelmente.

Como funciona uma empresa?

Empresas saudáveis não vivem de mês em mês. Empresas saudáveis operam sob uma ferramenta chamada fluxo de caixa

Para que uma empresa tenha um bom gerenciamento de fluxo de caixa, é preciso ter muito bem mapeado quais são as receitas e as despesas de uma empresa. De posse dessa informação, conseguimos prever qual será o custo de funcionamento de uma empresa em determinado período, seja mensal, seja anual. 

Imagine uma empresa com um custo mensal de R$ 10 mil, e que possua em seu caixa R$ 30 mil. Vamos assumir que essa empresa seja uma empresa de serviços com apenas dois grandes clientes. Imagine o cenário hipotético em que uma pandemia global feche toda a economia. Imagine que, por isso, essa empresa perdeu estes dois clientes. 

A partir deste exato momento, a esta empresa possui exatos três meses para conseguir um novo cliente e voltar a faturar (a conta é mais complexa, mas vamos manter assim para que seja fácil entender).

Dadas as circunstâncias, essa é uma missão bem difícil.

Agora, por que esta empresa tinha somente R$ 30 mil de caixa? Ou melhor, por que esta empresa tinha somente 3 meses de caixa? Existem diversas possibilidades. Vamos nos ater as duas mais plausíveis.

Hipótese #1: esta empresa estava tendo pouca margem de lucro e, por isso, não estava conseguindo formar um bom caixa. Hipótese #2: A margem de lucro estava boa, mas os sócios da empresa sacavam grande parte lucro. 

Via de regra, esses problemas ocorrem devido a um pouco dos dois cenários. Qual meu ponto?

Funcione como uma empresa

A gestão do seu dinheiro deve ser feito da mesma forma que a gestão de caixa de uma empresa. 

Imagine que o seu custo mensal seja de R$ 5 mil. Soma o mercado, a parcela do notebook, o Netflix, a cervejinha do fim de semana. Somou? Agora vamos ver quanto você ganha. Se você não tiver uma gestão ativa do seu dinheiro, muito provavelmente você ganha os mesmos R$ 5 mil/mês.

Provavelmente você não terá colchão financeiro, pois você aumentou seus custos até “conseguir gastar” todo seu salário. Mas, para efeitos didáticos, vamos imaginar uma situação atípica: você acabou de receber o décimo terceiro, o bônus de fim de ano e as férias. Você tem R$ 15 mil reais de colchão financeiro na conta.

Se, por causa de algo como o coronavírus, você perder o emprego, você terá exatamente 2 míseros meses para conseguir um novo emprego (não se esqueça que você recebe o salário depois de um mês de trabalho, não antes).

Dadas as circunstâncias, essa é uma missão bem difícil.

Agora, por que você só tinha na conta do banco o equivalente a 3 meses de custos? Sim… porque você gastava tudo o que ganhava. 

Percebe como eu construí a história de forma que a sua hipotética trajetória fosse muito semelhante a história da empresa? De fato, é assim que devemos tratar as nossas finanças. Devemos nos gerenciar como se gerencia uma empresa.

Eu nem preciso falar sobre a importância do colchão financeiro. Se você acompanha o blog há um tempo, já deveria saber isso. Deveria, inclusive, ter pelo menos 6 meses de colchão. 12 meses seria o ideal. Com um montante desses você terá grandes chances de sobreviver  a crises.

Mas, por que somente sobreviver? Por que não viver de forma plena e poder aproveitar tudo o que o dinheiro pode te oferecer?

Dobre sua renda mensal

A maioria dos gurus das finanças pessoais dizem que você deve guardar 20% do seu salário. 20% equivale a 1/5. Sendo assim, você gasta 80% do seu salário, ou 4/5. Portanto, a cada mês de trabalho você guarda 1 parte e gasta 4 partes. Trocando em miúdos: você precisa trabalhar 4 meses para conquistar 1 mês de sobrevivência.

Neste ritmo, você demoraria um ano para conquistar um colchão financeiro mínimo aceitável, que é de 3 meses. Para ter uma boa segurança financeira, que são 12 meses, é preciso trabalhar 48 meses, ou 4 anos.

Agora, reflita sobre os últimos quatro anos do Brasil: um impeachment, uma lava jato, dois ex-presidentes presos (não vou nem vou colocar na conta uma pandemia que resultou em 3 meses de economia parada).

Você acha aceitável viver durante 4 anos de forma frágil, mesmo que ela diminua com o passar do tempo, em um ambiente tão hostil quanto esse?

Se você dobrar a sua renda, você passará a ter um excedente de 5 partes, todo mês. Ao invés e guardar 20%, você poderá guardar 120%. Neste cenário, a cada mês de trabalho você conquista 1,2 meses de segurança financeira. Em 10 meses você terá seu colchão de um ano.

“Ah, mas você fala como se fosse fácil dobrar minha renda”. Em nenhum momento eu falei que é fácil. Mas entenda: com absoluta certeza, é possível. Eu sei disso porque eu passei por isso. Eu dobrei minha renda a cada ano, nos últimos dois anos.

E tem um detalhe: quanto mais baixa for sua renda agora, “menos difícil” será. Transformar 1 em 2 é muito mais fácil que transformar 10 em 20. Muitas vezes o próprio problema acaba sendo a solução. Basta olhar por outro ponto de vista.


E tem mais: a segurança é importante, mas no fim das contas é só mais um pretexto. O objetivo real é fazer com que você eleve o patamar, suba a barra. É fazer com que você aumente sua segurança e, ao mesmo tempo, descubra seu potencial. 

Quando você percebe que é capaz de fazer coisas inacreditáveis, o jogo muda. Você se torna mais confiante e mais ambicioso. Eu sei porque eu passei por isso. Se eu consegui, você também pode.

Além disso, existe aquela velha máxima de que “dinheiro chama dinheiro”. Com dinheiro no bolso, você começa a perceber que vale mais apenas focar em ganhar mais dinheiro do que em economizar contando moeda, ou então comprando a marca de bolacha mais barata. Isso é lógica de abundância.

E ai, o que acha de dobrar a sua renda?