Semana passada eu recebi uma pergunta muito boa no vídeo “Como ganhar muito dinheiro sendo Programador”. A pergunta, que veio do Diogo Marv, é essa: “Na sua opinião, vale mais a pena, em termos financeiros, ser empregado ou trabalhar por conta própria como programador?”.

Como eu já disse em um post anterior, eu busco sempre prestar mais atenção no que uma pessoa diz, ao invés de simplesmente focar no que ela fala. Essa pergunta é um exemplo perfeito para aplicarmos essa teoria. Por trás da pergunta conseguimos suspeitar de diversas crenças.

O primeiro questionamento que faço é: quais as diferenças entre “ser empregado” ou “trabalhar por conta”? Em seguida: o que implica cada um dos cenários? Quais os prós e os contras? Além disso, é possível termos uma resposta genérica para esta pergunta? O contexto de cada um não deve ser considerado?

Diante de todas as reflexões, hoje eu quero falar basicamente sobre estes dois pontos. Qual é o papel do “trabalhador” nos dias de hoje? Como entender este papel e decidir qual caminho tomar?

O “trabalhador” na era do conhecimento

Estou lendo um excelente livro, por indicação do meu amigo Renzo, chamado “O modelo do Pensador”, de Luiz Cláudio Binato. Este livro foi indicado para o Renzo depois que ele passou por uma mentoria sobre gestão de pessoas.

Binato foi alto executivo de grandes corporações e hoje atua como coach, ajudando na formação de gestores de grandes empresas.

No começo do livro, ele traça um breve panorama de como o mundo capitalista foi se desenvolvendo ao longo do século XX. De forma bem resumida, ele usa a queda do Muro de Berlim como símbolo do final da Era Industrial e início da Era do Conhecimento.

A Era Industrial, foi, basicamente, a era responsável por mudar o mundo. Saímos de um cenário onde o ser humano tinha necessidades básicas não supridas, para um cenário onde estas demandas passaram a ser supridas quase que completamente. Além disso, quando são supridas, são de uma forma abundante.

Na primeira metade do século XX, vivíamos em um mundo onde a demanda humana por itens de necessidade básica era muito maior do que a oferta. Compare o começo deste século com o começo do século passado: tudo era menos acessível. Tínhamos menos comida, menos segurança, a medicina era menos desenvolvida, as tecnologias, de forma geral, eram muito mais arcaicas.

Porém, com o avanço da indústria, o capitalismo foi suprindo essas demandas. Em 1820, 90% da população mundial vivia na extrema pobreza. Em 2015, apenas 10% vivem. Comparado a toda a história da humanidade, este é um salto gigantesco em um curtíssimo espaço de tempo.

Mas, como o Binato disse, a Era Industrial acabou, dando lugar para a Era do Conhecimento. Hoje a oferta é infinitamente maior que a demanda. Em um cenário desses, não basta mais apenas produzir. As máquinas já fazem isso com excelência e quase que de forma autônoma. 

Em um cenário desses só sobrevive quem tem uma capacidade plena de gerar valor.

Mais indivíduo, menos coletivo

Na Era do Conhecimento, quase tudo vira commodity. Você quer vender um produto com a sua marca? Centenas de fábricas da China podem fabricar para você. Você quer um site para sua empresa? Diversos serviços como o Wix te fornecem isso. 

Neste cenário, as funções operacionais tendem a deixarem de serem executadas por humanos e passam a serem executadas por robôs. Um robô não cansa, não reclama, não precisa dormir. Um robô, principalmente no Brasil, não “pega conjuntivite” no carnaval e aparece com um atestado médico garantindo 5 dias de repouso.

E você, como profissional de tecnologia, consegue perceber que essa substituição está acontecendo de forma muito rápida. É certo que, em questão de anos, não haverá mais motorista de Uber, nem entregador de encomenda. Isso pode acontecer em em 5 anos, ou em 20 anos, mas é fato que vai acontecer.

Nós, como programadores, podemos até nos sentir confortáveis pois, afinal, somos nós os responsáveis por criar estas automações e, portanto, temos nossos empregos garantidos, certo? 

Se a Alexa, que custa menos de 300 reais, consegue entender o que você diz, você realmente acha que máquinas não serão capazes de criarem software? O Wix já tirou o trabalho do Webmaster, meu amigo.

A inteligência artificial dos dias de hoje já tem capacidade suficiente de aprender de forma relativamente autônoma. As máquinas já “pensam”, de certa forma. Sorte a nossa que elas ainda não possuem diversas outras características humanas, como por exemplo, amar, sentir, se emocionar…

Então, nosso papel como trabalhador vem sendo cada vez menos operacional e cada vez mais criativo. Em outras palavras, devemos deixar de ser executores de demanda e passamos a ser resolvedores de problemas.

Mas, como passar por esta transformação? Segundo Binato, o indivíduo deve:

  • passar a ser responsável por suas escolhas e, consequentemente, por seu destino;
  • assumir o comando de sua vida e dos papéis inerentes;
  • cuidar da sua carreira, imagem e atitudes;
  • gerar resultado, e não mais apenas esforço;
  • deixar de ser recurso humano, para se tornar, de fato, ser humano;
  • fortalecer sua individualidade.

Não quero me aprofundar em cada detalhe aqui pois o autor com certeza faz isso bem melhor que eu, em sua obra. Portanto, recomendo fortemente a leitura.

Para sobreviver e prosperar na Era do Conhecimento é preciso se fortalecer como indivíduo. Para se fortalecer como indivíduo é preciso se conhecer.

Não há alternativa

Voltando a pergunta do Diogo, a resposta mais simples que posso dar é que, hoje, não há outra forma de trabalhar que não seja por conta própria.

Ao deixar de ser um executor de demandas e passar a se posicionar como resolvedor de problemas, você necessariamente acaba por assumir a responsabilidade de trabalhar por conta própria. Ao se posicionar de forma ativa, este é o caminho inevitável.

Dito tudo isso, imagino que a pergunta real do Diogo seria algo como “corro atrás dos meus próprios clientes ou aplico para vagas de emprego?”

Considerando que vivemos na Era do Conhecimento, essa pergunta não faz muito sentido. Você, como resolvedor de problemas, acaba por desenvolver a sua própria forma de trabalho, o seu próprio jeito de pensar e encarar os desafios do dia a dia do seu trabalho. 

Claro, sempre existirão as boas práticas e os conhecimentos comuns de toda profissão. O meu ponto é que, na nossa era, esse conhecimento é muito mais um ferramental do que uma verdade absoluta. Vale muito mais o como você usa esse conhecimento do que o conhecimento em si. Padrão por padrão, o robô é capaz de identificar isso melhor que você.

Olhando por esta ótica, o seu empregador CLT, ou o contratante da sua empresa, acabam exercendo um papel muito semelhante. No fim das contas todo mundo acaba se tornando cliente.

Você é o responsável por gerar resultado. O “como” importa cada vez menos para o seu cliente. Olhando dessa forma, o “trabalhar por conta”, ou o “ser empregado” se torna apenas o formato de como se dá a sua relação com o seu cliente. O “CLT” ou o “PJ” se torna apenas um detalhe burocrático. 

E ai, você é um executor de demandas ou um solucionador de problemas?