Sabe aquelas frases prontas, ou histórias, que ninguém sabe realmente se é verdade, mas acaba, de fato, se tornando verdade, de tanto ser contada ao longo dos anos? Tem uma dessas que eu adoro.

Dizem que Bill Gates (ou Steve Jobs, ou Elon Musk, são sempre a eles atribuídas estas sacadas geniais que provavelmente eles nunca falaram) que toda empresa deve buscar contratar pessoas preguiçosas. A lógica por trás do pensamento é simples: Toda pessoa preguiçosa, por ter esta natureza, procurará o caminho mais curto para atingir seu objetivo.

Acredito muito nesta máxima, independente de qual a cunhou. Eu sou um preguiçoso nato. Sempre questionei o porquê das coisas, buscando, no fundo, um motivo para não fazer o que era preciso ser feito.

Dada esta minha natureza, eu sempre me interessei por conceitos, assuntos e pessoas que buscassem a forma mais rápida de atingir um objetivo. Foi então que, ao longo da vida, fui me interessando por conceitos como minimalismo, ou então a Lei de Pareto. Fui também me interessando por pensadores como Taleb, Tim Ferriss, ou até mesmo Ray Dalio. 

Ao ler Dalio, consegui racionalizar algo que vinha intuindo há algum tempo: devemos ter um conjunto de princípios que norteiem nossas decisões. No post de hoje quero destrinchar um pouco destes conceitos e explicar como venho construindo meus princípios.

O ser humano e sua tendência natural de complicar as coisas

Você já percebeu o quanto nós, como seres humanos, temos a tendência a complicar as coisas? Nós programadores mais ainda. Como pessoas altamente analíticas que somos, temos talvez o dobro, o triplo, dessa tendência.

Eu mesmo domino essa arte. Por sorte, também domino a arte de ser preguiçoso. Colocando na perspectiva de longo prazo, vence a preguiça. Mas, no dia a dia, diversas vezes a capacidade de complicação se manifesta.

E assim, ao longo dos anos, eu venho vivendo nessa eterna gangorra. Porém, nessas idas e vindas, em determinado momento fui apresentado ao conceito do minimalismo.

Segundo o Google, minimalismo é o “princípio de reduzir ao mínimo o emprego de elementos ou recursos”. Sim, é verdade que tem uma galera que usa o minimalismo como pretexto para ser avarento e porco a ponto de usar os dois lados do papel higiênico. Mas fique tranquilo que esses são só os burros.

Seguindo nesta linha, apresento-lhes o economista minimalista Vilfredo Pareto (esta peculiar definição é minha. Pareto foi feliz em morrer a tempo de não se deparar com esses termos modernos). Pareto desenvolveu o seu conhecidíssimo princípio que diz que “para muitos eventos, aproximadamente 80% dos efeitos vêm de 20% das causas”.

Como um belo preguiçoso que sou, depois que conheci este princípio, passei a adotá-lo em toda e qualquer tomada de decisão. Como ganhar 80% de dinheiro investindo 20% de esforço? Como me manter 80% saudável investindo 20% de esforço? Como limpar 80% da casa investindo 20% de esforço? Como apresentar 80 da ideia investindo 20% de esforço?

Usando o princípio de Pareto, eu devo dizer 80 vezes a palavra não para cada 20 vezes que disser a palavra sim. Simplificando, 4 nãos para 1 sim. Com base nesta tese, acabei desenvolvendo outro princípio fundamental: o meu “não” vale muito mais que seu “sim” (lembra da via negativa).

Para atingir meus objetivos eu preciso focar no que realmente importa. Para focar no que realmente importa, não posso deixar meu instinto complicador agir. 

Como evitar riscos que possam te matar

Ter uma abordagem minimalista perante a vida te poupa muito esforço desnecessário. Mas, ao não darmos a devida atenção para determinados cenários, também podemos incorrer em um outro tipo de risco: a falta de proteção contra o cisne negro. 

Eu já falei outras vezes sobre este conceito aqui no blog, sendo que a primeira vez foi lá em 2018. Mas, para os novos leitores que não tiveram oportunidade de ler estes outros artigos, vou fazer um breve resumo.

Segundo Taleb, autor do termo, Cisne Negro “é um acontecimento improvável e que, depois do ocorrido, as pessoas procuram fazer com que ele pareça mais previsível do que ele realmente era”.

Podemos enfrentar alguns ditos cisnes negros durante nossa trajetória (digo ditos pois uma das características do Cisne Negro é ser imprevisível, e vários do que irei citar não são), como, por exemplo, sofrer uma doença, perder o emprego, perder um ente familiar, ou até mesmo sofrer uma pandemia global que mata algumas centenas de milhares de pessoas e trava a economia global.

Segundo Taleb, “A única definição de racionalidade […] é a seguinte: racional é o que permite a sobrevivência“. Ainda segundo ele, “nem tudo o que acontece acontece por um motivo, mas tudo o que sobrevive, sobrevive por um motivo”.

Ray Dalio, autor que você conhecerá mais a frente neste texto, também é adepto desta forma de enxergar a vida. Segundo ele, não podemos nunca nos expor a riscos que possam nos levar a ruína.

Juntando tudo isso, cheguei a conclusão que não podemos utilizar o princípio de Pareto neste caso. Dado que cisnes negros possam acontecer, e, dado que negligenciar 20% dos riscos que possam nos levar a ruína obviamente nos trás 20% de chances de irmos a ruína, entendi que nossos esforços em nos manter no jogo devem sempre tender a 100%.

Muito complexo? Vou tentar traduzir em termos mais convidativos. Existem três formas de se expor a riscos: a forma frágil, a forma robusta e a forma antifrágil. 

Imagine um cenário em que você tenha um salário de três mil reais por mês, e, hipoteticamente, uma crise global acontece devido a uma pandemia. Se você não tem uma reserva financeira de, pelo menos, um ano, você está exposto ao risco de perder o emprego de forma frágil. Se você tiver essa reserva, você está exposto de forma robusta.

Mas e se essa crise durar mais que o seu colchão financeiro? Mesmo que robusto, você ainda corre o risco de “não sobreviver”. Porém, se você for um ótimo profissional em uma área que se beneficia de crises, como, por exemplo, tecnologia, você “corre o risco” de ter seu passe valorizado e, assim, se beneficiar de um cenário ruim. Eis o antifrágil!

Então, entendemos que devemos evitar riscos que possam nos matar, mas, em contrapartida, devemos nos expor a riscos que possam nos impulsionar.

Dedicando o mínimo de esforço e obtendo o máximo de retorno

Vamos fazer uma breve recapitulação: devemos ser preguiçosos o suficiente para ignorar o que não importa, mas sem correr o risco de morrer. A melhor forma de fazer isso é focarmos em nos tornar antifrágil. Uma bela teoria. Agora, como aplicar na prática?

Outro pensador que me deparei ao longo das minhas expedições (ótimo termo que copiei do meu amigo Henrique Bastos e que em breve irei me aprofundar) foi Ray Dalio. Seu livro Princípios desenvolve uma ótima tese para aplicarmos estes conceitos na prática.

Começando pelo começo, ao procurar no Google a definição da palavra princípios, você vai descobrir que “são um conjunto de normas ou padrões de conduta a serem seguidos por uma pessoa ou instituição”.

Segundo Dalio, “todos os dias somos bombardeados por situações que exigem um posicionamento. Sem princípios, seríamos forçados a reagir a tudo que a vida joga sobre nós individualmente, como se vivenciássemos cada situação pela primeira vez. Porém, se classificarmos essas situações em categorias e dispusermos de bons princípios para lidar com elas, seremos capazes de tomar decisões adequadas mais rapidamente e, como resultado, melhorar nossa qualidade de vida”.

A premissa que eu adoto para desenvolver meus princípios são tão simples que as posso citar em uma pequena lista de 4 ítens:

  • Aceite que você é burro
  • Viva e observe
  • Identifique os padrões
  • Extraia os princípios

Na semana que vem vou explicar cada um em detalhe. Por enquanto, vamos apenas assumir que eu (na verdade o Ray Dalio) estou certo. 

Acredito muito que devemos sempre buscar a excelência no que realmente importa. Desenvolver princípios é a forma de otimizar esta busca evitando os riscos de cair nas armadilhas do dia a dia.

O meu objetivo com este post é te estimular a desenvolver seus próprios princípios. Te convido a fazer uma análise do seu passado, entender onde você acertou e, principalmente, entender onde e porque você errou.

Acredito que, mesmo que intuitivamente, você tenha desenvolvido seus princípios. Apenas tente mapeá-los e traduzí-los em palavras. Com certeza será um ótimo exercício de autoconhecimento.