Na semana passada eu postei um artigo que pensei que fosse terminar em polêmica. Estamos passando por um momento social bastante tenebroso. Existe um grande nível de intolerância com quem pensa diferente, mesmo que seja apenas em alguns aspectos bem específicos. Essa intolerância culmina na tão infantil e perigosa “cultura do cancelamento”, onde o diálogo e a negociação cedem espaço ao confronto, linchamento virtual e assassinato de reputações.

O post da semana passada tinha grandes chances de ser cancelado, dado o tema tabu e a minha proposição um tanto quanto “exagerada”, ou enérgica. Felizmente a recepção do vídeo foi muito boa e acabou gerando debates muito interessantes. Recebi até uma mensagem de um grande amigo que acabou em uma call de quase duas horas.

Dado que eu apenas propus uma ideia, sem dicas práticas, recebi vários comentários dizendo: “Poxa, legal, faz muito sentido dobrar meu salário. Mas como eu faço isso?”

Portanto, hoje vou trazer duas grandes dicas para você dobrar seu salário. Mas antes, quero fazer um pequeno disclaimer.

A Importância de Tomar Suas Próprias Decisões

O Fábio Akita tem um vídeo muito bom onde ele destrincha de forma bastante profunda este tema. A defesa do vídeo é clara: Não terceirize suas decisões. Essa é a minha dica matadora.

Entendo você querer saber dicas práticas sobre determinada sugestão. Faz mais sentido dado que o que eu falei no vídeo passado é, de certa forma, algo contraintuitivo. Dificilmente você recebe uma dica tão “ousada”.

Eu entendo porque, se você foi formado no sistema de educação brasileiro, muito provavelmente você não foi ensinado a pensar por si próprio. Você se acostumou a copiar um conteúdo da lousa, receber instruções sobre “o que vai cair na prova” e estudar somente com este objetivo: tirar nota 6 e passar de ano.

Em nenhum momento este sistema te ensina o real porquê você deve aprender as coisas. Qual a utilidade de aprender a calcular a hipotenusa de um triângulo? Ou o seno de um ângulo? Ou a diferença entre as plantas briófitas e pteridófitas? De fato, se você não for um engenheiro, ou um botânico, as chances de você nunca mais usar estes conhecimentos são bastante altas. 

Sendo você engenheiro, botânico, pintor ou trapezista, fato é que, mesmo que você utilize este conhecimento em algum momento, você aprendeu pelo motivo errado. Não se aprender “por aprender”, se aprende com um objetivo maior. Esse objetivo pode ser relacionado a sua profissão, pode ser relacionado a sua vida, pode ser relacionado a sua curiosidade. Mas é preciso de um objetivo.

O ponto é: você precisa saber o porquê de aprender. Essa é a forma correta de se aprender. O conhecimento não é um fim em si próprio, mas um meio para alcançar um objetivo.

E por que estou te falando tudo isso? Porque, para saber o real motivo pelo qual você deve aprender algo, você precisa se conhecer.

Eu posso chegar a você e dizer: para dobrar seu salário você deve mudar para um grande centro e buscar um emprego em uma multinacional. Agora, me diga: e se você já mora em um grande centro? E se você não quer mudar para um grande centro? E se você é uma pessoa que não curte a política de grandes empresas? E se você prefere empreender a ter que trabalhar de forma burocrática em uma grande empresa?

Apenas uma dica, sozinha, não resolve toda a questão. Não resolve porque falta algo que somente você pode fornecer. Falta contexto.

Imagine um jovem de 18 anos que deseja ganhar um bom salário. Eu poderia dizer “torne-se um programador, essa área bomba e não tem crise”. Estaria mentindo, não? Seria uma boa dica? Depende. Esse jovem tem bom raciocínio lógico? Gosta de trabalhos criativos? Gosta de ficar longas horas na frente de um computador, com pouca interação social?

O contexto é parte essencial dessa equação. Por causa disso, é você quem precisa tomar a decisão de qual caminho seguir. É você quem precisa estudar os prós e contras de determinada estratégia. Como? Levando em consideração o seu contexto.

Sabe por quê? Porque se algo der errado — e várias vezes vai dar — provavelmente a culpa não será da dica, ou da técnica, mas sim da falta de sincronia com o seu contexto. A dica que vale pra mim pode não valer para você.

Sem contar que é você, e somente você, quem irá sofrer os ônus, caso algo dê errado, ou usufruir dos bônus, caso algo dê certo. Quem fornece dica não tem skin in the game.

Como Tomar Boas Decisões?

Bom… já diagnosticamos o porquê não temos a capacidade de pensar por nós mesmos. Já entendemos também a importância de tomarmos nossas próprias decisões. Agora você deve estar se perguntando: como eu faço para pensar por mim mesmo e tomar boas decisões?

O primeiro passo, e o mais importante, é saber o porquê você quer fazer o que quer. Por que você quer dobrar de salário? Para ganhar mais dinheiro? O dinheiro, por si só, não tem valor. Você não pode comer o dinheiro, por exemplo. O dinheiro é um meio para se atingir determinado fim.

Mais dinheiro pode significar mais possibilidades, mais liberdade, mais segurança, mais conforto. De novo, por que você quer dobrar seu salário?

Sabendo onde você quer chegar, é importante saber o que você está disposto a fazer para chegar lá e, principalmente, o que você não está disposto a fazer. 

Se você disser para mim que simplesmente quer mais dinheiro, eu posso te sugerir roubar um banco. O que acha? Me parece ser uma forma rápida de ganhar uma grande quantidade de dinheiro. Absurdo né? Sim, pois provavelmente essa sugestão entra em conflito com o seu valor de honestidade.

Olhar para dentro e entender os seus valores é algo primordial para não cair no erro de acabar fazendo algo que não deseja. Conheço várias pessoas que possuem muito dinheiro mas são infelizes, pois não gostam do que fazem. Essas pessoas vivem em uma espécie de prisão psicológica. Elas se submetem diariamente a uma atividade que não gostam porque precisam manter um determinado padrão de vida. 

Pessoas nessa situação são pessoas que estão na merda. Um lugar fedido, porém, aparentemente quentinho (só que uma hora a merda esfria rs).

Sabendo o porquê, e sabendo as suas condições, a tomada de decisão fica muito mais contextualizada. Ficará mais fácil? Provavelmente não, pois toda decisão possuem lados positivos e negativos. Mas, com certeza, ficará mais clara. Ponderar lados positivos e negativos, de forma lúcida, real e contextualizada, é o terceiro passo para uma boa tomada de decisão.

Lembre-se: O preço da liberdade é arcar com as consequências de suas próprias escolhas.

Tá bom… vou dar algumas dicas.

Feito todo esse disclaimer, vamos para o que interessa. É bom dizer, também, que acredito que é possível encurtarmos nossos caminhos aprendendo com os erros e acertos de outras pessoas.

Eu já passei várias vezes por esse processo, durante os meus 10 anos de carreira como programador, líder técnico, marketeiro e empreendedor. De fato, existem dicas que poderão te ajudar a dobrar seu salário de forma rápida, desde que você entenda que essas dicas só valem alguma coisa, quando encaixadas no seu próprio contexto. 

Eu enxergo que existem alguns caminhos efetivos para que você dobre seu salário o mais rápido possível.

Se você for uma pessoa que sempre trabalhou como funcionário e não tem apetite por risco, não quer trabalhar por conta, ou não deseja ser empresário, o caminho mais rápido para você dobrar seu salário e conseguindo um novo de emprego. Explico. 

Como você justificaria, de forma prática e objetiva, a pedida de um aumento de 100% de salário para seu chefe? Se você tem essa resposta, retiro o que disse. Corra e peça este aumento o mais rápido possível.

Agora, se você não tem essa resposta, o caminho mais rápido é procurar um novo emprego e negociar esse aumento logo de cara. Como diz o meu amigo Renzo, a primeira pedida é a mais fácil de ser negociada. Isso acontece porque existem várias novas variáveis em jogo. Quer um exemplo: às vezes a nova empresa possui extrema necessidade de alguém que faça o que você faz. Outro exemplo? Você pode tentar um cargo maior. Outro exemplo? Somente você participou do processo seletivo. Enfim, são grandes as possibilidades.

Claro… Olhando apenas uma vaga, de forma individual, as chances de você não conseguir essa vaga ao pedir o dobro do salário são muito maiores. Mas, se existe alguma chance de você conseguir, basta que você tente várias vezes, com várias empresas diferentes.

Se você fizer uma entrevista nova por semana, em um ano terá feito 52 entrevistas. Você só precisa de um sim. Ah, e um ano pode parecer muito, mas qual será o impacto na sua vida depois de passados 10 anos com o seu salário dobrado?

Agora, se você trabalha como um profissional autônomo, trabalha como PJ, ou até mesmo atende mais uma empresa, suas opções são maiores. 

Você pode seguir a mesma lógica apresentada acima e buscar um novo cliente cobrando o dobro do valor. Você pode também contratar novas pessoas para terceirizar boa parte do trabalho e focar em buscar novos clientes. Você pode também se especializar em uma nova vertente que pague mais, e contratar pessoas para delegar o que faz hoje. Você pode também fazer tudo isso.

Enfim, em uma situação de maior autonomia, você possui mais caminhos.

Mas, lembre-se. Essas dicas são apenas dicas. Mais importante do que fazer, é saber o porquê você deve fazer e o que você não está disposto a fazer. 

O que importa de verdade é saber tomar uma boa decisão levando em consideração o seu contexto!