Na semana passada eu escrevi sobre a importância de possuirmos princípios para poder lidar com o nosso dia a dia. Eu já vinha intuindo isso há um bom tempo, e então veio Ray Dalio, com seu livro Princípios, e consolidou essa ideia na minha cabeça.

No fim do post eu citei um pequeno passo a passo para você desenvolver seus princípios. Este passo a passo consiste em: 1) aceitar que você é burro; 2) viver e se observar enquanto vive; 3) identificar os padrões que vão emergindo ao longo do tempo; 4) desenvolver princípios que te ajudem a lidar com esses padrões.

Não temos nada de novo nesse método. Se você já teve contato com algum conhecimento referente a administração de empresas, irá encontrar grande semelhança com o famoso Ciclo PDCA. Ou então, participou do ecossistema de startups, também vai encontrar semelhança com o Método Lean Startup.

Todos estes métodos são adaptação do chamado método indutivo, que é a base da filosofia empírica. O método indutivo, segundo a Wikipedia, “é o raciocínio que, após considerar um número suficiente de casos particulares, conclui uma verdade geral.”

Basicamente, o que fiz no post passado foi te apresentar uma sequência de passos para que você consiga desenvolver seus princípios de uma maneira empírica. Hoje eu vou me aprofundar em cada um desses passos.

Passo 1: Aceite que você é burro!

Talvez esse seja o passo mais importante de todos. Vou te explicar o porquê.

Podemos classificar nosso conhecimento basicamente em três categorias: existe aquilo que a gente sabe e sabe que sabe; existe aquilo que a gente não sabe, mas sabe que não sabe; e, por último, existe aquilo que a gente não sabe e não sabe que não sabe. 

Este último é o mais importante de todos. Ao sabermos que algo existe e que não sabemos sobre isso, conseguimos resolver isso de forma simples: basta aprender. Mas, ao não sabermos nem mesmo da existência de algo (a possibilidade de uma catástrofe, por exemplo), corremos riscos desconhecidos. 

Quer um exemplo? Imagine que você foi convidado para ser sócio de uma startup. Você não sabe se o projeto vai dar certo, mas sabe que as chances de dar certo são baixas. Você faz as contas e vê que tem dinheiro suficiente para se sustentar por um longo período e não precisar contar, de imediato, que o projeto dê dinheiro. Ótimo! Você não sabe o que vai acontecer, mas sabe o que pode vir a acontecer.

Agora imagine que o projeto fracassa e além disso os sócios ficam com uma dívida de um milhão de reais para cada. Você não conhecia esse risco e, por não conhecer, não o considerou no momento em que decidiu entrar no projeto. Será que você teria entrado sabendo que corre o risco de ficar sem nada e ainda dever um milhão de reais?

Pensando de forma lógica, é mais provável que você não saiba que muita coisa existe, do que o contrário. No mundo, existem uma infinidade de assuntos e você é um só (se você tiver mais curiosidade sobre o assunto, veja mais sobre efeito Dunning Kruger).

Portanto, faz muito mais sentido assumirmos a nossa burrice perante aos assuntos que não conhecemos profundamente. Isso te força a buscar ajuda de quem entenda ou então atacar nossa burrice e se aprofundar, de fato.

Tomar como premissa que você é um burro te abre uma janela de infinitas oportunidades, afinal, se somos burros, significa que temos muito a aprender. Quanto mais aprendermos, mais teremos contatos com novos assuntos. Quanto mais novos assuntos, mais coisas para aprender. Permita-se viver este ciclo infinito.

Viva e se observe vivendo

Por mais que a nossa infância e juventude inteira seja dentro de uma sala de aula, com o tempo você vai percebendo que a melhor fonte de conhecimento é a sua própria experiência.

Sendo assim, podemos assumir que, para adquirir mais e mais conhecimento, basta deixar o tempo passar e ir vivendo?

Não, não podemos. Não basta apenas viver. Para adquirimos conhecimento, é preciso praticar um exercício de análise perante a sua vida. Em outras palavras, é preciso observar o nosso viver.

Este é um princípio tão básico que existe há milênios, materializados nas mais diversas formas. Em muitas religiões, por exemplo, existe o princípio da confissão, onde você conta seus pecados a um guia espiritual. Já no nosso dia a dia, sempre que enfrentamos algum problema ou passamos por algum tipo de stress, temos a tendência de desabafar com pessoas próximas e de confiança.  A prática de terapia com um psicólogo é um outro exemplo. Até na programação temos o famoso método Rubber Duck Debugging, que consiste em “contar o seu problema ao pato”.

Isso acontece porque, para poder contar nossas mazelas para outra pessoa, precisamos organizar as informações e construir uma narrativa. É nesse momento que a magia acontece.  Muitas vezes apenas o ato de organizar em nossa cabeça as informações nos faz enxergar a coisa de forma mais clara e, com isso, tirar algumas conclusões que sejam relevantes.

O viver é, por si só, uma ótima fonte de aprendizado. Porém, é preciso estarmos conscientes.

Identifique os padrões

Depois de viver e analisarmos o nosso viver, o próximo passo é identificar os padrões que nos levam a agir da maneira que agimos. Como tudo na vida, a nossa forma de pensar e agir são moldadas sob diversos padrões. 

Como fazemos, por exemplo, para educar um cachorro? Basicamente adotamos um padrão que consiste em recompensar as atitudes corretas e punir as atitudes incorretas. Fez xixi no jornal? Ganha um biscoito. Comeu o pé da cadeira? Toma bronca.

Esse sistema só funciona pois o cachorro, mesmo que instintivamente, é capaz de reconhecer padrões. Ele não consegue entender o porquê ele deve fazer xixi no jornal, mas ele consegue entender que sempre que ele faz o xixi no jornal algo de bom acontece. Então, de forma lógica, seu instinto sempre vai incentivá-lo a agir daquela maneira.

O ser humano, nesse aspecto, é muito parecido. Também somos bons em reconhecer padrões. Inclusive, como disse no post anterior, nós já temos nossos diversos padrões pré-desenvolvidos no nosso subconsciente. Devido ao instinto de sobrevivência desenvolvido ao longo de centenas de milhares de anos, o ser humano se tornou muito bom em detectar esses padrões.

Porém, devido ao mesmo instinto de sobrevivência, o ser humano também é programado a buscar recompensas imediatas. Só que, em muitas situações, o mais sábio é negar o imediato em troca de um benefício maior no futuro. 

É por esse motivo que não podemos simplesmente delegar a identificação de padrões ao nosso subconsciente. Isso é muito arriscado pois, o nosso subconsciente se preocupa apenas em sobreviver. Já nós, como indivíduos, devemos sempre nos preocupar em viver, fazendo isso da forma mais plena possível.

Por isso é tão importante que a gente se esforce de forma ativa para identificar os padrões.

Por fim, desenvolva seus princípios

Identificar uma determinada forma de agir que, sempre que aplicada a uma situação, produz o efeito desejado, é desenvolver um princípio. 

Por exemplo: Por que devemos honrar nossa palavra e cumprir com o que prometemos? Ao não cumprir com o combinado, acabamos por transmitir a imagem de uma pessoa não-confiável. O problema nisso é que, em algum momento, precisaremos que acreditem na gente. Agora, como confiar em uma pessoa que não cumpre com o combinado?

Assim, sempre que estiver tentado a não cumprir com o que prometeu, você tem uma fórmula pronta para tomar uma decisão. Ao invés de ponderar todos os prós e contras, você poderá simplesmente recorrer ao princípio que diz que “Aquele que honra a sua palavra é um homem de caráter”.

Este é o valor de um princípio: poder ter a mão um conjunto de guias que vão te ajudar nas tomadas de decisão do dia a dia.

Existem atalhos para diminuir sua burrice

Este é um assunto muito importante para mim pois eu sou a prova viva de que adotar e seguir um conjunto de princípios nos torna ser humanos de sucesso.

De todos os passos acima, o mais importante, sem dúvidas, é partir da premissa que somos burros. Por si só, este passo já é um princípio. E, foi este princípio que me fez mudar de vida e enxergar e realizar meu potencial.

Eu sempre tive uma facilidade muito grande de raciocinar de forma lógica. Por isso, minha capacidade de dedução sempre foi muito boa. Porém, ele nunca foi boa o suficiente para me trazer o sucesso que eu almejava. 

Até meus 25 anos, mais ou menos, eu me achava muito inteligente, mas vivia infeliz, com a carreira estagnada e fazendo muito menos dinheiro do que eu gostaria. 

Até que, em determinado momento, eu conheci pessoas muito boas e que, de fato, viviam da forma que eu gostaria de viver. Estas pessoas pensavam de forma totalmente diferente de mim. Em resumo, adotavam princípios diferentes. Conhecer estas pessoas me fez enxergar que havia uma falha estrutural na forma como eu pensava.

O fato é que eu era muito arrogante para identificar essas falhas sozinho. Eu me achava capaz de deduzir vários assuntos sem me aprofundar o suficiente. Conhecer essas pessoas me fez enxergar que de fato eu não era capaz, pois, se fosse não estaria infeliz.

Somente quando eu aceitei a minha burrice perante vários assuntos, foi quando eu abri a mente e fui atrás de me realmente me aprofundar nos assuntos que eram necessários.

Foi então que, ao praticar essa forma de pensar diariamente, a minha vida mudou da água para o vinho. A minha carreira decolou, eu passei a fazer muito mais dinheiro e, principalmente, passei a gostar do meu dia a dia. Em resumo, eu passei a ser feliz.

É por isso que estou escrevendo este post. Meu objetivo é te inspirar a aceitar a sua burrice e, por consequência, desenvolver seus princípios.

Existem caminhos mais curtos e que podem ser úteis neste processo. Consumir muita cultura é um deles. Ao se deparar com a história de outros seres humanos você desenvolve a capacidade de viver várias vidas dentro de uma. Com isso, você potencializa a sua capacidade de enxergar padrões e, por consequência, desenvolver e validar princípios.

Mas, não se engane, nada substitui a sua própria vida. Cada indivíduo é único e podem possuir histórias semelhantes, mas nunca idênticas. Por isso é tão importante você mesmo desenvolver seus próprios princípios.