Na semana passada rolou mais uma daquelas tretas chatas e sem nenhum benefício na “devtwit” (já que existe uma fintwit, me permitam pegar emprestado a terminologia). O assunto da vez era a relação entre relevância do programador e sua atividade no Github.

Infelizmente o twitter, que antes era um espaço de troca de ideias e debates interessantes, está se tornando um esgoto onde as pessoas estão mais preocupadas em militar e ofender o diferente, do que debater em um nível decente.

Seguindo o excelente manual de sobrevivência a internet, do Henrique Bastos, eu silencio qualquer tipo de pessoa, ou termo, que possam me fazer cair no erro de confundir diálogo com disputa de força e acabar tentando debater com um militante (eles não buscam o debate, apenas enfiar sua ideologia abaixo da guela alheia).

Graças a essa atitude eu mantenho minha sanidade mental e fico alheio a maioria essas discussões idiotas. Infelizmente, algumas tomam uma proporção tão grande que acabam resvalando em mim. Foi o caso dessa última.

Já que acabei impactado por isso, resolvi tentar fazer do limão uma limonada e usar esse flame para dar minha opinião sobre alguns assuntos que rodeiam essas discussões.

Sobre a polêmica

Não consegui identificar exatamente qual foi a origem da treta. Confesso também que não tive muito interesse em saber. Mas, pelo o que entendi, havia uma discussão sobre a relevância de um bom perfil no GitHub no momento de uma contratação.

Até então, essa é uma discussão super saudável. Uma das principais métricas para avaliar a qualidade de um profissional é ver, in loco, como é o seu trabalho.

Só que o papo acabou enveredando para outro lado e, então, começaram críticas aos supostos “devs de palco” que pregam em suas palestras que devemos contribuir com projetos opensource mas, que, na prática, pouco fazem isso.

Crítica super válida. Cadê o Walk the Talk? O skin in the game? Como diria Taleb: “Evite ouvir conselhos de alguém cujo ganha-pão seja dar conselhos, a menos que haja uma penalidade para esses conselhos”. 

Se uma pessoa te aconselha a fazer algo que ela própria não faz, essa pessoa não passa de uma demagoga (na maioria dos casos, hipócrita mesmo).

Então, instaurou-se a polêmica e a discussão acabou sendo tomada pela já conhecida militância de sempre. Criou-se uma patrulha e inciou-se uma tentativa de classificação de relevância de programadores usando como base a sua atividade no Github.

(De novo, me perdoe caso eu não tenha entendido corretamente o que ocorreu. É que, de fato, essas discussões são inúteis e não me interessam nem um pouco.)

O problema com esta ânsia em classificar pessoas

Uma das características que sempre envolvem essas tretas é esse desejo ardente que essa turma têm em querer classificar pessoas. 

Para classificar algo, é necessário elencar um atributo para que uma distinção possa ser feita. Só que pessoas não possuem apenas atributos. Pessoas possuem também história, possuem contexto. Ao recorrer a um atributo, invariavelmente o contexto vai acabar sendo ignorado.

Usando como exemplo essa discussão: como utilizar o Github como critério de avaliação quando uma pessoa só trabalha em repositórios privados? Ou então, se a pessoa não tem tempo, ou vontade, de contribuir com projetos que possuem repositórios públicos? E se a pessoa trabalha no Gitlab, e não no Github?

Eu sou esse exemplo. Só trabalho em repositórios privados, raramente tenho tempo (ou vontade) de contribuir para projetos abertos e quase não trabalho no Github. 

Se não recorrermos ao contexto, eu seria classificado como irrelevante. Eu sou um programador irrelevante? Pergunte aos meus clientes, que enchem os bolsos com minhas soluções, ou então aos alunos do Python Pro, que se beneficiam da plataforma que eu ajudo a dar manutenção… 😉

Uma das maiores lições que aprendi com meu amigo Henrique Bastos, é que nunca podemos permitir que nos reduzam a um atributo. Somos pessoas com contexto e com história e nenhum atributo será capaz de representar isso de forma completa. 

Ao reduzir pessoas a atributos, fatalmente cairemos no erro de dividir as pessoas. Alguém com quem possuímos muito mais semelhanças acaba sendo visto como diferente. O próximo degrau dessa lógica perversa é tratar o semelhante como inimigo e começar a combatê-lo. A quem interessa essa divisão?

Fuja das aparências. Apenas gere valor.

Via de regra podemos extrair pouca coisa de valor das palestras dos chamados “devs de palco”. Isso acontece porque essas palestras não possuem conteúdo. São apenas geradores de lero-lero e repetição de outras palestras, sem que se foque nos conceitos que realmente importam.

Eu e o Renzo, lá no DevPro, sempre damos vários conselhos que, por mera coincidência, também são dados por estes “programadores de palco”. A diferença é que os nossos conselhos possuem fundamentos por trás.

Quando indicamos a iniciantes contribuir com projetos abertos, o objetivo não é somente a contribuição por si só, mas também o aprendizado pela prática, já que programação se aprende pelos dedos.

Quando indicamos a iniciantes abrir um blog e escrever artigos, o objetivo não é somente o texto, por si só. Existem outros objetivos, como reforçar o aprendizado, praticar e melhorar sua comunicação por texto e se fazer conhecido.

Quando indicamos a iniciantes palestrar em eventos de comunidades de programadores, o objetivo não é somente a palestra por si só, mas também a participação na comunidade, além de praticar e melhorar suas habilidades de comunicação em público.

A quantidade de relevância de um programador é medida pelo tanto de valor que ele gera para seu cliente, seus pares e sua comunidade. 

Quando alguém diz que um Github deve ser relevante para ser bem visto por recrutadores, perde-se o objetivo final, e passamos a viver de aparência.

Qual o objetivo final?

Quando vejo uma treta dessas no twitter eu começo a questionar qual o real objetivo por trás das atitudes de algumas pessoas… o objetivo é gerar valor? Ou simplesmente forçar aparências para agradar seus pares?

Se, por vezes, você ficar confuso no meio dessas discussões inúteis, o meu conselho (que vem amparado por anos de prática) é o seguinte: Cague para o que pessoas que não possuem relevância na sua vida pensam sobre você. Cague mais ainda para a opinião de pessoas que você não respeita. Tenha como objetivo apenas gerar valor para seu cliente, seus pares e seu entorno.

Em resumo: cague para militantes e devs de palco e foque no que realmente importa.