Um dia desses recebi a seguinte pergunta no meu Instagram: 

Faculdade faz diferença?

Respondi a pergunta por lá, mas acho que o tema merece uma discussão um pouco mais aprofundada. Por isso resolvi fazer este post.

Esse é um tema polêmico.

Discutir sobre esse tema é como discutir sobre religião, sobre futebol, ou sobre qual a melhor linguagem de programação.

Sempre existirá opiniões contrárias e opiniões favoráveis. Os argumentos serão lógicos e muitas vezes emocionais. 

Quase todo mundo que conheço tem uma opinião formada sobre o assunto. O debate sempre é acalorado.

E, como você já deve ter percebido, eu também tenho a minha opinião.

Vale a pena fazer faculdade? 

A resposta longa é: depende.

A resposta fácil (e possivelmente controversa) é: Sim, vale! 

Mas não pelos motivos que você está pensando. 

A minha relação com a faculdade

Eu fiz faculdade. O curso foi Análise e Desenvolvimento de Sistemas, um tecnólogo com 3 anos de duração no IFSP, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo.

Eu entrei na faculdade quando tinha acabado de fazer 18 anos. Vim direto do ensino médio. Já trabalhava como auxiliar de escritório em uma empresa de representação comercial. Também já sabia programar desde os 15 anos (pelo menos sabia o que era uma variável, um loop, uma condição, etc).

Quando eu passei em uma faculdade federal, foi alegria para todo mundo. Meus pais ficaram super orgulhosos. Eu sentia como se tivesse dado o primeiro passo para conseguir “garantir meu futuro”. 

Foram 5 anos da minha vida bem chatos (eram para ser 3). Eu era bem imaturo. Só queria saber de festa, bagunça e diversão. Meu objetivo era só conseguir um bom emprego para ganhar mais dinheiro e poder me divertir mais no fim de semana. 

Esse objetivo eu consegui atingir rápido. Logo no começo da faculdade eu consegui meu primeiro estágio. Depois de um tempo eu já estava efetivado e ganhava uma grana boa, considerando que morava com a minha mãe e não tinha quase nenhum custo fixo mensal.

O primeiro ano de curso foi de conceitos. Lógica de programação, orientação a objetos, modelagem de banco de dados. Aprendi bastante sobre redes também (apesar de já ter esquecido tudo). Foi proveitoso.

Nos próximos anos vieram as matérias mais teóricas. Arquitetura e engenharia de software, gestão de projetos, um pouco de administração. Neste ponto começou o declínio. 

O fato de eu ter começado a trabalhar com tecnologia cedo me fazia questionar tudo o que eu aprendia na faculdade. Tudo estava desalinhado com o que eu fazia no trabalho. 

No trabalho eu aprendia sobre Scrum, enquanto na faculdade eu ouvia sobre PMBOK. No trabalho eu aprendia sobre versionamento de código, enquanto na faculdade eu nunca ouvi falar disso. 

Claramente havia uma defasagem da faculdade em relação ao mercado de trabalho. Esse motivo me fez desanimar. Comecei a faltar, peguei várias DPs por isso. Pensei até em largar. No fim, me arrastei, mas consegui terminar.

Em resumo, quase tudo o que eu sei hoje sobre tecnologia eu aprendi na prática, sob demanda. E foi esse fato que me fez pensar, durante muitos anos, que eu tinha perdido tempo na faculdade. 

O que são as oportunidades?

Durante muitos anos eu pensava que a faculdade servia para ensinar. E sim, um dos objetivos em uma cursar uma faculdade é aprender. Mas esse não é o principal motivo.

Para entender qual é o principal motivo da cursar uma faculdade, antes é necessário entender um pouco sobre como funciona o mundo de uma forma mais geral.

Já falei diversas vezes que o nosso objetivo principal deve ser gerar valor para outras pessoas. Servir o próximo.

Você só consegue gerar valor para alguém que esteja com um problema que precisa ser resolvido. O encontro entre você e essa pessoa é o que chamamos de oportunidade. 

O desenvolvimento de uma carreira é fundado em boas oportunidades. A oportunidade é o início de tudo. É o gatilho para você poder servir ao próximo. 

As oportunidades podem vir de diversos lugares. Sites de emprego, mural de vagas, fóruns e listas de discussões. Elas também podem vir da sua rede de contatos. Todo mundo tem pelo menos um colega de profissão que sabe de pelo menos uma empresa que está com vagas abertas. 

Para você conseguir aproveitar essas oportunidades, você precisa de boas credenciais. Basicamente a pessoa do outro lado precisa saber se você é capaz de resolver esse problema. 

Existem algumas formas de se conseguir credenciais. Recomendações de colegas que sabem que você é capaz, histórico de trabalhos anteriores, títulos acadêmicos. O objetivo de uma credencial é provar que você é capaz. 

Quando você é jovem e ainda nem começou sua carreira direito, você tem muito poucas credenciais. Você não tem histórico de trabalho, com isso poucas pessoas sabem da sua capacidade, o que significa que poucas pessoas poderão te indicar.

Estar cursando uma boa faculdade pode ser sua melhor credencial no começo. Vai ser o seu diferencial entre outras pessoas para conseguir acessar uma oportunidade.

De onde vêm as boas oportunidades?

Existe um livro chamado Sapiens, Uma breve história da Humanidade. Neste livro, o autor Yuri Harari defende que o ser humano só conseguiu se destacar de outra espécies animais porque aprendeu a contar histórias.

Nós, como seres humanos, damos muito valor a recomendação de uma pessoa em que confiamos. 

Imagine que sua casa está com um vazamento e você precisa de um pedreiro para resolver este problema. Ao comentar com um amigo, ele diz que já passou por isso e conhece um pedreiro que resolveu o problema para ele. Com certeza você vai dar preferência ao pedreiro que seu amigo indicou ao invés de um pedreiro que você encontrou o contato em um grupo de facebook, por exemplo.

Essa é a mesma lógica para qualquer outra área. As melhores oportunidades chegam até você através de sua rede de contatos. 

Sites, mural ou listas com empregos são a segunda alternativa de uma pessoa que está procurando por alguém. As melhores oportunidades sequer chegam nestes lugares. Alguém de confiança já indicou alguém de confiança. 

A faculdade pode ser uma das primeiras chances para iniciar relacionamentos de confiança com outras pessoas.

É lá que você vai conhecer aquele seu colega que já faz um estágio e que sabe que existe outra vaga em aberto. É lá que você vai conhecer um professor que gerencia uma área de desenvolvimento com vagas abertas. É lá que você terá, pela primeira vez, acesso a pessoas que potencialmente conhecem pessoas que possuem problemas a serem resolvidos.

Essas pessoas vão indicar você. Para isso, basta você ter credibilidade, basta você servir estas pessoas que elas também te servirão.

Eu preciso fazer uma faculdade?

Para responder esta pergunta é preciso entender o real valor da faculdade e também entender a sua necessidade em determinado momento.

Faculdade significa oportunidade de construir novos relacionamentos. 

É a única oportunidade? Não. Conheço várias pessoas que começaram ótimos relacionamentos frequentando eventos de tecnologia e fóruns de discussão.

Conheço também pessoas que herdaram estes relacionamentos de pais, familiares ou pessoas próximas.

Os caminhos são muitos.

A faculdade é um deles. Com certeza um que tem grande potencial e não deve ser descartado antes de analisado com muito carinho.