“95% of people create nothing and have tons of opinions. 5% of people create everything and have very few opinions.” Traduzindo livremente, este tweet diz algo como “95% das pessoas não criam nada e possuem um monte de opiniões. 5% das pessoas criam tudo e possuem muito poucas opiniões.

Também no Twitter, essa semana, rolou uma galera ironizando cursos de programação que vendem a promessa de que é possível se tornar um programador em pouco tempo. 

Eu, como produtor de conteúdo e também parcialmente responsável por um curso de sucesso que justamente promete (e cumpre) tornar leigos em programadores profissionais em pouco tempo, resolvi escrever sobre esse assunto e publicar uma de minhas poucas opiniões.

Então, começo com a seguinte pergunta: Você acha que é possível se tornar um programador profissional em questão de meses e ter acesso a um mercado que paga altos salários e está repleto de vagas em aberto?

A Nobre Profissão Exercida pelos Programadores

Existem pessoas que consideram programação uma arte. E, por incrível que pareça, eu sou uma dessas. De fato, programar pode ser encarado como uma arte. Ao programar, você está, de certa forma, se expressando através de códigos, funções e comandos. 

Entretanto, como quase tudo no mundo, um mesmo assunto pode ser encarado de diversos pontos de vistas, e uma mesma atitude pode ter diversas finalidades e desdobramentos.

A arte pode ter diversas funções: informar, educar e entreter são alguns exemplos. A arte também pode ter função econômica. Um comerciante de quadros, por exemplo, pode encontrar na compra e venda de arte o seu sustento. Inclusive, essa atitude não inviabiliza a sua capacidade de continuar apreciando os quadros que vende. Muito pelo contrário. A motivação de prestar um bom serviço como vendedor de quadros pode fazer com que haja uma especialização ainda maior no assunto.

Acontece que esse interesse e essa especialização não são premissas para que este vendedor de quadros exerça sua função. O vendedor pode simplesmente enxergar o comércio de quadros como uma troca entre comprador e vendedor, tal qual o comércio de parafusos é uma troca entre comprador e vendedor. Ele pode ter zero interesse nesse tipo de arte e ainda sim ser um ótimo comerciante de quadros.

O mesmo serve para programação. Existem pessoas que simplesmente enxergam a programação como um meio para gerar lucro e produzir riqueza, sem necessariamente ser apaixonado pela arte de programar. Para essas pessoas, a função da programação é somente trazer o dinheiro necessário para o sustento próprio e de seus familiares. E, obviamente, não há problema algum com isso.

Olhando pelo lado econômico da coisa, um programador fornece mão-de-obra para uma empresa que vende (ou usa) tecnologia para gerar valor a seus clientes. Existem diversas pessoas no mundo que enxergam a programação somente por este lado. Arrisco a chutar, com grandes chances de acertar, que a grande maioria das pessoas que trabalham com programação pensam dessa forma.

Da mesma forma que não vejo problema enxergar a programação como uma arte, também não vejo problema em enxergar a programação como um meio para gerar valor e produzir riqueza. Ambos são pontos de vista completamente válidos e que, inclusive, podem coexistir. 

Por que fiz essa introdução? Explico. 

Parte das pessoas que enxergam a programação como uma “nobre” arte acreditam que esta é a única visão possível da coisa. Para eles, quem não enxerga desta forma simplesmente está errado. 

Partindo desta premissa, para dominar a arte da programação, seria necessário anos e anos de estudo e prática para que se desenvolva uma capacidade suficiente que lhe permita receber o “nobre título” de programador.

Um “reles mortal”, que apenas faz fórmulas no Excel mas que, mesmo assim, consegue automatizar diversos processos e gerar muito valor, não pode ser considerado um programador?

Tem também os iniciantes, que utiliza aqueles frameworks faz-tudo, ou até mesmo plataformas que são praticamente low-code, como WordPress. Esses “pobres coitados” não sabem nem fazer um bubble-sort, mas, mesmo assim, consegue entregar um produto muito bem acabado e que resolve o problema do seu cliente. Eles também não podem ser considerados programadores?

É claro que são programadores! Eles também programaram, mesmo que em alto nível, uma tecnologia para resolver um problema e gerar valor.

Essa cisma de que, para ser considerado um programador, é preciso que uma pessoa passe por anos de estudo, não passa de ataque de pelanca. Para mim, não há cabimento se ofender com o fato de alguém querer colocar nivelar um programador com 1 mês de experiência junto com um programador com 20 anos de experiência. Ambos são programadores, sim!

Se olharmos pelo ponto de vista da geração de valor, ambos são resolvedores de problemas. O que os diferenciam é que o programador mais experiente resolve problemas que exigem um repertório de conhecimento maior, ao passo que o programador menos experiente resolve problemas mais triviais, que não exigem tanto conhecimento técnico.

Mas, ainda sim, o fato é que ambos resolvem problemas.

As supostas falsas promessas dos cursos

A ironia que vi por esses dias, no twitter, foi referente a cursos que prometem tornar seu aluno um programador em míseros 7 dias. Se levarmos ao pé da letra, podemos considerar um programador uma pessoa que, de fato, programa. Ao criar um “Hello World”, seja na linguagem que for, podemos considerar esta pessoa uma programadora. Se sabemos que é plenamente possível ensinar uma pessoa a fazer um Hello World em Python em até 7 minutos, imagine em 7 dias?

Mas, sim, concordo que uma promessa de fazer alguém aprender a programar em 7 dias é, no mínimo, duvidosa. Digo isso pois existem vários outroas pontos que estão implícitos nessa promessa, como o fato de, por exemplo, se tornar um programador implicar em conseguir um emprego na área.

Enfim, olhando por essa ótica, acredito que é virtualmente impossível ensinar um leigo, em apenas sete dias, a programar em um nível em que esteja capacitado a exercer a função profissionalmente.

Mas, pelo fato dessa promessa beirar o absurdo, eu me pergunto se existe realmente algum curso no mercado que prometa isso. Eu mesmo, como membro de uma equipe de um curso de programação e que pesquisa profundamente o mercado e a concorrência, nunca vi.

Eu imagino que a crítica seja algo mais hiperbólico e caricato, com o objetivo de criticar cursos que fazem promessas ditas exageradas.

O meu questionamento é: essas promessas são falsas?

Vamos usar como exemplo a promessa que fazemos ao vendermos o Bootcamp Python Pro: “Torne-se um Programador Profissional em questão de meses e tenha acesso a um mercado que paga altos salários e está com milhares de vagas em aberto”.

Com certeza os “arautos da programação” consideram essa promessa exagerada, beirando até a falsidade. Agora, vamos aos fatos…

Vivemos em um país repleto de adultos com baixíssima capacidade técnica. Pesquisas indicam que 3 em cada 10 brasileiros são analfabetos funcionais (eu desconfio fortemente desses dados. Pelo o que vejo no dia a dia, o número é muito maior). O ensino técnico e a faculdade que, em teoria, deveria preparar o cidadão para o mercado, passam longe de atingir esse objetivo com o mínimo de eficiência.

Por outro lado, temos uma demanda latente por programadores profissionais. O mundo moderno foi completamente consumido pela tecnologia. Praticamente toda atividade humana moderna envolve tecnologia, de algum modo. Para que essas tecnologias sejam criadas, ou implantadas, precisamos de profissionais capacitados.

Neste cenário, basta ensinar o básico bem ensinado que esta pessoa rapidamente conseguirá uma vaga de estágio, ou até mesmo um cargo de programador júnior. Em um Bootcamp de 3 meses é perfeitamente possível ensinar este básico.

Ainda está com dúvidas? Basta olhar o histórico. Eu consigo lembrar, fácil, de umas 10 pessoas que conseguiram uma oportunidade antes mesmo do encerramento dos três meses de duração do Bootcamp.

Todos vão conseguir? Claro que não. As pessoas são diferentes. Isso invalida a promessa? Muito pelo contrário. O objetivo da promessa é mostrar que é possível, não que é fácil. Como tudo na vida, é preciso esforço e dedicação.

Conclusão

Eu acho super válido apontarmos e criticarmos as falsas promessas. Como em todo mercado, existem os picaretas e também existem os que fazem um trabalho sério. O que não acho correto é usar de informações e conclusões rasas para colocar estes dois perfis na mesma prateleira.

Dito isso, É POSSÍVEL SIM se tornar um programador profissional em poucos meses. Conheço uma pessoa, por exemplo, que saiu do zero, completamente leiga, e já estava empregada e exercendo a programação profissionalmente em pouco mais de doze meses. Essa mesma pessoa, 3 anos depois, está trabalhando para o exterior e ganhando em dólar. Pegue o salário médio de um programador e multiplique por 5 e perceba o quanto esta pessoa está ganhando. 😉

Isso não indica que uma pessoa com meses de experiência será plenamente capacitada para resolver qualquer desafio da profissão. Como toda profissão prática, somente os anos e a experiência podem forjar um profissional altamente capacitado. O ponto é que, para a grande maioria dos desafios, não é preciso uma alta capacitação. Uma capacitação mínima, que pode ser adquirida em meses, já te permite começar.

Quanto aos programadores que se acham super especiais somente por terem anos de experiência na área, tenho uma dica: baixem a bola. Você é pago para resolver problemas, assim como o iniciante também é. Ambos são resolvedores de problemas. O que os diferenciam é apenas o tipo de problema a ser resolvido. 

E, por fim, nunca aceite “críticas construtivas” de quem nunca construiu nada.