Semana passada eu comecei a contar a minha história. Confesso que eu estava meio receoso de fazer isso, afinal, “minha história nem é tão interessante assim”, eu pensava.
A minha proposta era servir de inspiração de alguma forma, seja positivamente, seja negativamente. Felizmente, essa proposta foi muito bem recebida. Os comentários foram positivos e até algumas pessoas resolveram contar as suas próprias histórias.
Então, primeiro de tudo, quero te convidar a compartilhar sua história comigo aqui nos comentários. Quais foram seus pontos de virada? Enquanto você não conta a sua história, sigo com a parte dois da minha, que já havia prometido na semana passada.
#6: A liberdade, sem responsabilidade, de ser um freelancer
Seguindo de onde parei… Finalmente eu estava livre das pressões e das 2h30 de trânsito diárias. Pedi demissão e, além da grana que eu tinha guardado, veio uma quantia considerável dos penduricalhos da CLT, como rescisão, bônus, férias, etc etc etc. Somando tudo, eu tinha algo em torno de seis meses de custos mensais na mão.
Foi então que eu percebi que não teria trabalho para mim, a não ser que eu fosse atrás dele. Ok, olhando esta frase, é verdade que a primeira parte eu identifiquei muito mais rápida que a segunda. Ainda sim, como eu sempre fui um bom profissional, tanto em relação a parte técnica, quanto em relacionamento com outros colegas, pingava algumas coisas mais triviais para fazer.
Nessa época eu fiz de tudo um pouco: desenvolvi sistemas em Python e Django, desenvolvi sites institucionais em PHP puro e Symfony, mas o forte mesmo era o WordPress. Sempre gostei no WordPress, provavelmente pelo mesmo motivo que gostava do Django. Trata-se de um software simples, porém poderoso, de se trabalhar. Além disso, conta com uma grande comunidade por trás. Isso o torna uma poderosa ferramenta de produtividade.
Fiz tanta coisa em WordPress nessa época que cheguei até a fazer o site da dupla sertaneja Fernando e Sorocaba, em parceria com uma agência de publicidade de um conhecido.
O grande problema dessa época foi que eu não tinha nenhum foco de médio/longo prazo. Paralelo a isso eu queria ser jogador profissional de poker e tocar uma empresa de lembranças fotográficas para eventos que eu tinha montado com meu primo.
Some a dispersão de foco em três grandes vertentes de carreira a minha completa indisciplina, e eu me descobri, como diria o Renzo, um pato: sabe nadar, sabe voar e sabe andar, mas não faz nada disso direito.
Ainda sim, graças aos meus freelas, eu consegui tocar a vida e pagar minhas contas durante um ano. Essa foi a primeira vez que eu tive contato com uma extrema liberdade. Pela primeira vez não tinha algo parecido com um chefe me dizendo o que eu deveria fazer.
Na época eu não percebi, mas hoje consigo enxergar claramente qual foi meu ponto de inflexão nessa época. Foi nessa época que eu comecei a perceber a sensação ruim de achar que tinha tudo o que queria e, ainda sim, me sentir infeliz.
Em resumo, foi nessa época que eu percebi que liberdade sem responsabilidade pode ser mais maléfico que benéfico.
#8: Do nada, o primeiro salário de 5 dígitos
Passado esse primeiro ano, acabei caindo em um cliente corporativo para fazer mais um freela em Python. Resumidamente, alguém vendeu um sistema inovador que só poderia ser entregue em Python. O sistema foi vendido, o dinheiro foi pago, mas o trabalho nunca havia sido entregue. Por questões políticas, precisavam de alguém para colocar esse sistema no ar, afinal, algo em que já havia sido colocado tanto dinheiro não poderia ser desperdiçado.
Eu vi, e provei, que poderia consertar o sistema. Depois de alguns dias trabalhando, me perguntaram quanto seria o meu preço/hora. Eu fiz algumas contas e cheguei a um número. Acontece que o rapaz que estava responsável pela minha contratação também era programador. Por alguma intervenção divina ele resolveu falar quanto os programadores cobravam por hora, naquela empresa.
O valor era simplesmente o triplo do que eu planejava pedir (e olha que eu já estava, para os meus parâmetros, chutando o balde). Quando ele perguntou o meu preço/hora, de bate pronto, eu tive que tomar uma decisão: aumento o preço ou mantenho? Nem um, nem outro, joguei o valor acima da média deles.
E, como esperado, eles não aceitaram. Mas, como precisavam muito, fizeram uma contraproposta, justamente na média do valor que a empresa pagava. Foi quando eu, totalmente no instinto, disse que aceitaria, mas com a condição de ficar de casa um dia por semana, pois precisava de tempo para tocar meus outros freelas. Aceitaram!
De repente, eu tinha 24 anos de idade e estava ganhando quase R$ 12k por mês. De um dia para o outro meus ganhos triplicaram!
O ponto de inflexão foi sentir, pela primeira vez na vida, a sensação de ganhar um bom dinheiro. Imagine só: um moleque que morava com a mãe e quase não tinha custo fixo, do nada, passar a ganhar um salário de 5 dígitos.
Entretanto, eu era muito consciente. Sabia que grande parte do movimento foi “sorte” e que aquilo poderia acabar a qualquer momento. Foi então que aproveitei para tomar algumas atitudes: troquei de carro (inclusive o tenho até hoje), reformei a casa da minha mãe, que estava caindo aos pedaços, e fiz um bom pé de meia.
#9: A consolidação como programador
Fiquei um ano, mais ou menos, nessa empresa. Como o sistema que eu dava manutenção não era core business, eles precisaram cortar custos e eu acabei sendo desligado. Fiquei bem tranquilo, porque era algo que eu já previa. Voltei para a vida de freelancer, mas agora bem mais tranquilo, afinal, eu tinha uma boa grana guardada.
De novo freelancer, de novo sem foco nenhum. Hoje eu percebo que, na realidade, eu nunca tive um foco que viesse de mim mesmo. O que me trazia foco sempre eram os empregos em que eu estava. Em outras palavras, outras pessoas eram responsáveis pelo meu foco.
Depois de alguns meses, fui fazer um novo freela em Python para uma outra empresa e o mesmo roteiro se repetiu: me ofereceram um emprego. Só que dessa vez a proposta era diferente. Eu seria líder técnico, e não mais apenas um programador.
Até então, eu nunca tinha me imaginado liderando uma equipe. Também não me imaginava voltar a ter uma carteira assinada. Na verdade eu nem queria. Refleti muito e acabei aceitando voltar para a CLT, usando como “desculpa” o diferencial de poder liderar uma equipe.
Coloco a palavra desculpa entre aspas pois, hoje enxergo que, na realidade, eu estava apenas suprindo a minha falta de foco. Eu, como não tinha nenhuma perspectiva profissional, acabei me agarrando na oportunidade de alguém me dar essa perspectiva.
Portanto, de repente, eu estava empregado em uma startup. Tudo era completamente novo. O ambiente era descontraido. Os meus colegas de trabalho eram jovens, gente fina e gostavam bastante de se divertir, iguais a mim.
Por outro lado, a pressão era gigantesca. Muito parecida com a que tinha enfrentado no meu último emprego registrado. Tive que virar noites algumas vezes e, de novo, para colocar no ar um projeto que não foi utilizado. Isso sem contar, de novo, as 3h diárias de trânsito.
Sem perceber, eu cai no mesmo erro de 4 anos atrás. Mas, ainda sim, se eu for tirar um saldo, acredito que tenha sido positivo. Apesar de eu ter engordado 10 kg em 6 meses, de ter tido bastante desgaste no meu namoro, de ter voltado a beber e fumar bastante e de ter ficado MUITO estressado, foi um bom período.
Primeiro de tudo, eu voltei a me assumir como um programador. Durante os últimos anos eu vinha vivendo uma grande crise de identidade. O que eu sabia fazer de melhor era programar, mas sempre renegava esse papel “operacional”, pois eu queria crescer e, na minha crença limitante, achava que isso não seria possível se eu estivesse colocando a mão na massa.
Além disso, foi a primeira vez que tive um contato tão próximo com um ecossistema de empreendedorismo com tecnologia tão forte. Conheci muita gente boa. Tanto que, grande parte dos clientes da Codevance hoje são frutos diretos, ou indiretos, das relações dessa época. Esse sim, com certeza, foi um grande ponto de inflexão na minha vida.
#10: A Primeira Python Brasil a gente nunca esquece
Menos de 6 meses de empresa e eu pedi o boné. Já havia passado por aquela infelicidade antes e consegui perceber muito rápido quando ela começou a aparecer novamente. Então pedi para sair.
Mas dessa vez foi diferente. Durante a minha passagem por lá tive contato com várias fábricas de software. A demanda por programadores era tão grande que não conseguíamos suprir apenas contratando novas pessoas. Precisávamos também delegar parte do desenvolvimento para essas fábricas.
Então, tracei um plano (muito mais para fugir de lá do que para empreender, de fato): Vou modelar essa galera e abrir a minha própria fábrica de software. Nascia, assim, a Codevance.
Três meses depois de seu nascimento, a Codevance contava com exatamente zero clientes. Dado essa situação, resolvi me aventurar e viajar para a maior conferência de Python brasileira, a Python Brasil. O objetivo era conhecer gente nova e prospectar clientes.
Tudo era novidade. Era a minha primeira Python Brasil. Também era a primeira vez que eu viajava sozinho, para um lugar em que eu não conheceria quase ninguém. Inclusive, aprendi a não mais me hospedar olhando apenas preço. Fiquei em um muquifo que eu nem cabia no banheiro direito.
Mas, ainda sim, foi umas das melhores experiências da minha vida. Viajar sozinho e não conhecer ninguém me forçou a fazer novas amizades. E foi assim que conheci várias e várias pessoas. Algumas delas, inclusive, se tornaram grandes amigos.
Foi lá, também, que entrei no curso Welcome to the Django e iniciei minha amizade com o seu criador, o Henrique Bastos. Esse, com certeza, foi um dos maiores pontos de inflexão na minha vida.
Naquela viagem eu fui apresentado a um novo mundo, onde diversos programadores conseguiam ganhar dinheiro e serem felizes ao mesmo tempo. Naquela viagem eu conheci pessoas maravilhosas que gostavam das mesmas coisas que eu gostava, que eram genuinamente interessados em se desenvolver em todos os aspectos da vida, do financeiro ao humano.
Pela primeira vez eu vi que era possível ser feliz programando. Pela primeira vez eu me senti acolhido em um grupo de pessoas que compartilhavam dos meus valores.
#11: A Python Sudeste e seus desdobramentos
Seis meses depois da Python Brasil 2017 veio a Python Sudeste 2018. A essa altura eu já era um membro ativo do WTTD e já tinha fortalecido, mesmo que virtualmente, a amizade com vários de seus membros.
A Python Sudeste foi a oportunidade de reencontrar a galera que já havia conhecido na Python Brasil, e finalmente conhecer pessoalmente alguns dos amigos virtuais.
Foram três dias muito intensos dedicados a praticar o meu esporte favorito: interação social. Palestra mesmo, eu quase não vi. Em compensação, foram muitos corredores, muita mesa de bar, regado a muita cerveja e papos sensacionais.
Esses papos foram decisivos na minha vida. Na Python Sudeste eu tive a oportunidade de ter um contato profundo com diversas pessoas. Esse contato, essa diversidade de histórias, de contextos, me fizeram enxergar o mundo de outra forma. Foram pessoas inteligentíssimas e absurdamente bondosas, em especial o Henrique, que me fizeram sair da caverna.
Foi por causa dessas conversas que eu tomei algumas decisões importantíssimas na minha vida, como ir morar sozinho, fazer terapia de forma consistente e me comprometer de verdade a me desenvolver como ser humano. Com certeza, um dos maiores pontos de inflexão da minha vida.
#12: A minha primeira sociedade
Foi na Python Sudeste que também conheci o Renzo. Eu já havia trocado algumas virtualmente com ele, através do WTTD, mas, foi neste evento que nós realmente nos conhecemos.
Desde a época em que trabalhei em uma startup, eu já vinha me interessando por essa possibilidade de utilizar tecnologia para fazer negócio. Nas minhas investigações pelo assunto, descobri que um dos pilares de negócios tecnológicos voltados para o grande público são vendas e marketing, mais especificamente marketing digital.
Já fazia um bom tempo que eu vinha me interessando por essa área. O Renzo, por coincidência, também vinha pesquisando bastante sobre o assunto. O objetivo dele era colocar mais energia no, até então, curso que ele mantinha paralelo ao seu trabalho como programador.
Dado o interesse mútuo, ficamos meses trocando figurinhas sobre o assunto. Ele sempre me consultando sobre marketing e eu sempre o consultando sobre criação de produto. No caso, criação de cursos.
Depois de meses, enxergamos o óbvio. O fato era que ele estava interessado mesmo em ensinar. O marketing era apenas um meio para isso. Já eu estava interessado mesmo em aprender marketing, a criação de um curso seria apenas um meio para isso. Por que não nos juntarmos? Foi quando ele me fez o convite para assumir o marketing da Python Pro. Nisso, já se passaram um ano.
Essa junção, com certeza, foi um ponto de inflexão, tanto para mim quanto para ele. Por termos uma história de vida com muitos pontos parecidos, pensamos de forma relativamente semelhante. Ambos somos perfeccionistas, impacientes e temos grandes problemas em conseguir confiar em outras pessoas para delegar tarefas.
Ao assumir uma sociedade você não tem alternativa: ou você confia no seu sócio ou você quebra. Ter que me forçar a confiar em alguém me fez enxergar que sim, é possível confiar e não ser passado para trás.
Com certeza isso se refletiu na minha relação com outras pessoas. Hoje, somando Codevance e Python Pro, temos cerca de 10 pessoas trabalhando conosco, seja direta ou indiretamente. Só é possível gerir essa galera aprendendo a delegar. E vem dando certo. Prova disso é que ambas empresas estão em seus melhores momentos.
E agora?
Como eu disse antes, meu objetivo é apenas trazer insumo para você refletir sobre sua vida. Eu acredito que uma das minhas maiores sortes foi ter nascido com essa necessidade sempre urgente de sempre estar me relacionando com outras pessoas.
Acredito que uma das maiores fontes de conhecimento do ser humano são histórias, sejam elas reais ou fictícias. É através das histórias, sejam elas vividas por você, ou contadas para você, que você irá adquirir repertório. Esse repertório, aliado aos estudos e ao autodesenvolvimento, te darão sabedoria para poder lidar com o seu dia a dia.
Por isso, eu te peço duas coisas: primeiro de tudo, faça o melhor proveito possível da minha história. Tome como exemplo negativo, tome como exemplo positivo, tanto faz. Não me importo com o que faça, desde que você faça algo.
Em segundo lugar, me conte a sua história. Ficarei muito feliz em conhecer mais quem me acompanha por aqui.