Semana passada rolou um papo bem bacana lá no grupo do Telegram do Welcome to the Django. Um dos membros mandou a seguinte mensagem: “Pessoal qual é a média que vcs cobram por hora?”.

Uma pergunta desse tipo seria equivalente a perguntar a um advogado “quantas páginas em média têm os seus processos?”, ou então, a um engenheiro “quantos pedreiros, em média, trabalham nas suas obras?”

Existe uma máxima que diz que “para todo problema complexo existe uma solução simples e errada”. Esse tipo de pergunta só tem alguma utilidade quando vêm acompanhada de um contexto. Quanto cobra em média um programador sênior especializado em Cobol? A resposta é depende. Quanto cobra hoje? Quanto cobrava nos anos 90? Prestando serviços para um banco? Ou para uma startup?

Para provocar, eu respondi “o máximo possível”. Então o nosso amigo se abriu e começou a contar a sua história. Não quero entrar em detalhes (até porque não pedi sua autorização) mas, em resumo, ele pediu um aumento e acabou passando pelo o que todo mundo teme neste momento: ouviu um não.

Na história haviam alguns pontos cegos. Também teve algumas atitudes que, se fosse eu, faria diferente. Por isso resolvi escrever este post. O objetivo aqui é te trazer dicas eficazes para que você consiga aumentar seu salário.

Princípios

Antes de vir com dicas práticas sobre como negociar um salário, eu quero traçar alguns princípios muito importantes que acredito que você deva ter na hora de entrar em qualquer tipo de negociação.

O primeiro princípio é saber que quem fica na média é medíocre. Queira sempre mais, seja ambicioso. Como diz o meu amigo Henrique Bastos, para cima não tem limite. Você não deve se embasar na média do mercado. Você deve se embasar no quanto quer ganhar. Essa é a resposta mais importante.

Sim, é claro que é importante ter uma noção de como funciona seu mercado. Saber quanto é a média salarial te ajuda a ter uma noção do quanto a sua pedida está destoando do comum. Quanto mais destoar, mais convincente deve ser a justificativa.

E assim entramos no segundo princípio: tenha uma vantagem sobre o outro lado. É essa vantagem que servirá de justificativa para a sua pedida.

Se você já assistiu Suits, ou “Homens de Terno” no Brasil, você já percebeu como funciona a técnica do Harvey Specter, conhecido como o maior closer de NY: para conseguir vencer seu oponente, ele sempre busca por um ponto fraco e utiliza isso como vantagem. 

Claro, trata-se de uma ficção. Na vida real o nosso objetivo quase sempre não é “derrotar o oponente”, muito menos chantageá-lo. O ponto principal aqui entender o valor do princípio da vantagem. 

As melhores negociações possíveis são as que as três partes envolvidas saem ganhando. E quais são estas três partes? Você, o outro lado e o entorno que os envolve. Essa é a maior vantagem de todas.

Um exemplo clássico deste ganha-ganha-ganha é o mundo open-source. Ao abrir o código do seu projeto e permitir que outras empresas o utilizem, você também permite que estas empresas colaborem com o código. Dessa forma, você se beneficia do esforço de outras empresas e outras empresas se beneficiam dos seus esforços. Ganha você, ganha o outro e ganha todo o entorno que também pode se beneficiar da solução. Essa é uma maravilha chamada colaboração.

Oferecendo vantagens na prática

Agora que você já entendeu os princípios de uma negociação, vamos a parte prática. Abaixo vou listar algumas dicas para que você consiga se colocar em vantagem em uma negociação salarial e, assim, ganhar mais dinheiro. 

1) Tenha uma reserva financeira

Quais são os riscos no caso de uma negociação naufragar? O menor deles é você ouvir um não e, então, vida que segue. O maior é você ouvir um não e além disso a contraparte se sentir ofendida e você ficar de mãos abanando.

Ter uma reserva financeira que sustente seus próximos 6 meses é essencial para que você possa se permitir tomar riscos maiores. Quanto mais segurança (vantagem) você tem, menos exposto você fica a situações ruins. 

Se você estiver com medo de pedir um valor muito alto que chegue a ofender a contraparte, a reserva financeira será o colchão que segurará sua possível queda.

2) Teste o mercado

No episódio 2 do nosso podcast DevPro, eu e o Renzo discutimos todas as maravilhas de testar o mercado. Recomendo fortemente que você assista o episódio por completo. 

Testar o mercado é o ato de constantemente aplicar para novas vagas de emprego. Não há malefícios. Se você estiver feliz com seu emprego, você sairá da zona de conforto e se deparará com novas possibilidades, seja de carreira, seja de tecnologia, seja de desafios, seja de ganhos financeiros. O mesmo vale para quando você estiver descontente.

Ao aplicar para várias vagas, você terá mais oportunidades de ouvir um sim. Imagine que você aplique para 50 vagas, passe por todo o processo seletivo, e seja selecionado para três vagas. Em um cenário desses você pode escolher e, principalmente, pode fazer um “leilão”. 

Se você gostou mais da oportunidade que não paga o melhor salário, mas também passou para a vaga que paga melhor, porque não usar isso como argumento para tentar um salário melhor na vaga que você mais gostou?

Normalmente, as pessoas tendem a tomar essa postura somente quando estão desempregadas ou descontentes. Por que não usar também quando estiver feliz? Como disse no começo: seja ambicioso. Sempre há espaço para melhoras. 

Se você passa em um processo seletivo que paga 50% a mais do que você ganha atualmente, você pode explicar pro seu chefe a situação e dizer que topa ficar por 30% de aumento. Vai que cola. Por que não fazer?

3) Gere valor, porra!

Essa é a regra mais importante de todas. A única forma saudável de conseguir vantagem sobre a sua contraparte é gerando valor. O seu chefe só vai querer te manter, mesmo pagando 30% a mais, se você for útil para a empresa. 

Além disso, essa é, das três dicas, a única que considera o ganha-ganha-ganha. A primeira dica tem relação com segurança. A segunda te ensina a conseguir uma vantagem. Elas são bem pontuais, para casos específicos. A única que se aplica ao longo prazo é essa.

Ainda sim você pode usá-la de forma pontual. Como já falei em outros posts, saber o quanto de valor você gera é importantíssimo para saber se você está sendo bem remunerado. 

Se uma empresa fatura R$100 mil por mês com um sistema que somente você sabe dar manutenção, porque não cobrar R$ 10 mil mensais por este serviço?

Como sempre, alguns disclaimers

É importante frisar que em toda escolha há uma renúncia. Quem busca conseguir tudo pode acabar ficando com nada. É importante ter cautela e sempre ponderar os prós e os contras de suas atitudes.

Também é importante frisar que toda negociação envolve riscos. Para mim, o objetivo ao entrar em uma negociação é tentar extrair o máximo de vantagens, buscando diminuir as desvantagens. Cabe a você ter a sabedoria do que são vantagens e o que são desvantagens, e, também, ponderar o tempo nesta equação. Vantagens de curto prazo podem se tornar desvantagens no longo prazo.

Procure sempre definir bem quais riscos vocês está disposto a correr para conseguir o que deseja. Mais importante ainda é definir quais riscos você não está disposto a correr. Dito isso, é sempre bom lembrar que sempre haverá riscos, e se você não os enxerga, você está correndo um risco maior do que pensa.

Tenha sabedoria ao aplicar as dicas deste post e foque sempre no mais importante: gere valor e busque sempre o ganha-ganha-ganha.