Na semana passada eu completei a marca de 50 vídeos no meu canal no Youtube. Foram 50 semanas consecutivas produzindo um vídeo por semana, sem errar. Teve natal, teve ano novo, teve carnaval. Em todas essas datas também teve vídeo.
Praticamente um ano de disciplina com certeza deve ser comemorado. Sim, é verdade que eu deveria ter feito algo comemorativo no vídeo 50, não no vídeo 51, que será o que eu postarei nessa semana. Acontece que eu tendo a dar pouquíssimo valor para datas comemorativas, portanto, obviamente, eu esqueci desse evento na semana passada e toquei a vida como se nada tivesse acontecido.
Mas… antes tarde do que nunca! Os vídeos desta e da próxima semana serão “comemorativos”.
A audiência do meu canal, apesar de pequena, é muito cativa. Como, para mim, qualidade importa muito mais que quantidade, fico completamente agradecido. Olhando para trás percebi que já faz 50 vídeos que converso com meus leitores/espectadores e nunca contei sobre minha vida.
Ok, um dos fatos de nunca ter feito isso era porque, até então, não achava que minha história de vida seja tão interessante assim. Só que, com o passar do tempo, comecei a perceber que cada história de vida possui um contexto muito único, o que torna TODA história de vida interessante.
Portanto, como forma de inspirar pessoas que pensam mais ou menos parecido como eu penso, resolvi copiar o sempre excelente Flávio Augusto e elencar os pontos de inflexão de minha vida.
#1: O pobre no colégio de rico
Um nasci e cresci no bairro da Vila Maria, zona norte de São Paulo. Rodeado por algumas favelas, mas também com alguns casarões, oriundos da grande quantidade de transportadoras no bairro, podemos classificar a Vila Maria como um bairro suburbano que não chega a ser uma “quebrada”, mas com certeza não é “bairro de playboy”.
Meus pais são separados desde que me conheço por gente. Minha infância foi marcada por morar com minha mãe e avós durante a semana e com meu pai no fim de semana, ambos de origens humildes.
Sou neto de nordestino imigrante com italiano, tanto por parte de pai como por parte de mãe. Meus avós faziam parte do que o meu amigo Henrique Bastos chamaria de um “bando de fodidos” que só queriam desenrolar a vida. E conseguiram. Tanto a família da minha mãe quanto a família do meu pai são formadas por pessoas de muito caráter, valor e princípios.
Mas a grana sempre foi curta. Eu nunca passei fome e nem fiquei sem minhas necessidades básicas atendidas. Mas, não passava disso. As minhas viagens de infância eram para o interior de São Paulo ou o litoral. Para se ter uma ideia, andei de avião pela primeira vez com 21 anos de idade.
Apesar disso, meus pais fizeram um grande esforço (ao qual sou eternamente grato) e me matricularam em um dos melhores colégios da região, o Sion. Com certeza o fato de ter estudado no Sion foi determinante na minha formação.
Apesar do complexo de inferioridade e outras consequências psicológicas de ser o “pobre no colégio de rico”, com certeza o fato do nível de estudo e cobrança no Sion serem muito alto (pelo menos na minha época era) ajudou muito a me forjar como ser humano. Tanto que consegui passar em dois vestibulares públicos sem ter me preparado para isso.
Se hoje um dos meus valores é sempre manter a barra alta no que interessa, com certeza o Sion influenciou muito nisso.
#2: Aula de História com HTML
Desde muito criança eu fui bitolado com qualquer tipo de tecnologia. A mais intrigante, sem dúvidas, sempre foi o computador. Me lembro de ficar “brincando” de criar provas no Word, súmulas de futebol de botão no Excel e apresentações de projetos fictícios no Power Point.
Entretanto, demorei muito a ter um computador em casa. Quem tinha computador era meu pai, portanto eu só podia brincar de fim de semana, ou nas férias. Acredito que fui ter meu primeiro computador com 13 anos.
Porém, com 11, lá no meu pai, eu já me conectava depois das duas da tarde do sábado e ficava vasculhando aquele mundo completamente novo e desconhecido que era a internet.
Lembro que nessa época meus amigos das turmas mais velhas diziam que o professor Pedro, de história, separava uma das aulas de história para ensinar a “criar sites”. Ele fazia isso porque, acredito eu, percebeu que essa seria uma habilidade requerida em um futuro próximo.
Pronto, um ano antes eu já estava completamente ansioso para estas “aulas de história”. Eu perguntava aos meus amigos mais velhos o que eles aprendiam e passava o fim de semana inteiro pesquisando sobre o assunto na internet.
Acabou que, quando finalmente cheguei a sexta série (acredito que hoje trata-se do sétimo ano) eu já sabia tudo o que o professor Pedro iria ensinar. Ainda sim foi uma experiência maravilhosa.
Criei um site de “interesse geral”. Tinha download de GIFs, download de fontes, códigos Javascript, e eu até contava a minha história nele. Me lembro como se fosse hoje: coloquei o site no ar no famoso Kit.net e, em menos de 1 hora, o contador de visitas já batia 15 mil visitas. Obviamente o contador estava bugado e eu não tinha recebido praticamente nenhuma visita, já que não tinha divulgado o endereço em nenhum local.
Por mais que as informações e o conhecimento já estivessem na internet, ter uma pessoa do seu convívio, do seu “mundo real” te ensinando algo que você queria muito aprender, te traz confiança e tangibilidade para perseguir o que você ama fazer.
Foi neste momento que eu consolidei minha paixão por tecnologia.
#3: O sonho do computador próprio e a apostila de PHP
Com 13 anos meus pais realizaram o meu maior sonho, até então. Juntaram uma graninha, fizeram um bem bolado e conseguiram comprar um computador usado para mim. Pela primeira vez eu tive o meu computador próprio.
Com certeza foi uma mudança radical na minha vida. Passei a poder fazer os mais diversos experimentos diariamente. Criava praticamente uma página em HTML por dia (antigamente eu escrevia o código no papel e “passava a limpo” no fim de semana).
Comecei a me aprofundar no assunto e, em cerca de 6 meses, já conhecia sobre Flash, Photoshop, Dreamweaver, Front Page, e diversos outros softwares. Fucei muito, frequentei muitos sites de tutoriais e fóruns, visitei diversos blogs.
Nessa época existiam muitos sites temáticos. Tinham sites só com detonados de videogame, sites com dicas e tutoriais sobre os mais diversos assuntos e, em especial, haviam os sites de animes.
Eu nunca fui muito fã de animes, mas achava sensacional a ideia de poder criar um site sobre um determinado tema e disponibilizar material infinito sobre aquilo. Por mais que não gostasse do assunto em si, decidi que queria fazer um site sobre animes.
Foi então que me deparei com as dificuldades. A maioria desses sites eram dinâmicos, e não mais puramente HTML e CSS. Eles usavam algum tipo de tecnologia que permitia você juntar vários arquivos em uma tela só, sem precisar usar frame. Era o suprassumo da modernidade tecnológica.
Depois de pesquisar muito, entendi que, para fazer sites daquele jeito eu precisava aprender uma linguagem de programação (inclusive fiquei muito triste quando descobri que HTML não era linguagem de programação). Quem mandava na porra toda era o PHP e o ASP. Graças a Deus escolhi o PHP.
Foi então que eu encontrei uma apostila que ensinava, imagino eu, PHP 3. Dei o arquivo da apostila em um disquete para o meu pai e pedi para ele imprimir e encadernar. Os próximos 6 meses foram devorando aquela apostila.
Demorou, mas, na raça, eu aprendi. Com certeza esse foi outro ponto de inflexão pois, ali, eu percebi que era possível não só servir informação ao usuário, mas também interagir com ele de algum modo.
#4: O Ensino Médio e a Vida como ela é!
Enfim chegaram os meus 15 anos e o tão esperado primeiro colegial. Eu sempre tive uma ansiedade muito grande de viver a vida, e aguardava aquele momento como a criança que não consegue dormir um dia antes do passeio escolar.
Sempre amei o novo e, naquele momento, praticamente tudo era novo. Eu mudei do período da tarde para o período da manhã, conheci novas pessoas, novos alunos, novos professores.
Eu sempre fui da turma do fundão, e, por sempre ter praticado esporte e ter jogado no time de futebol e de vôlei da escola (quase me federei como jogador de vôlei), também sempre tive amizade com outros alunos mais velhos.
Graças a essas amizades eu passei, aos poucos, a conhecer o bom da vida. Passei a frequentar as festas e churrascos do pessoal do segundo e terceiro ano. Com isso veio a bebida e (bem de vez em quando) a mulherada.
Eu cresci em uma família muito boêmia e festeira. Lembro de, quando criança, estar junto com meus primos brincando no meio de roda de samba. Praticamente todo fim de semana rolava um pagode na casa do meu tio, sempre regado churrasco e cerveja. Eu cresci no meio disso e sempre admirando muito a forma como minha família sabia viver a vida.
Aos 15 anos eu estava, pela primeira vez, vivendo a vida que meu pai e meus tios viveram. A vida que eu sempre idealizei. Era praticamente um sonho sendo realizado.
Sem dúvidas foi outro ponto de inflexão. É certo que eu fui perdendo o interesse por paixões antigas, como tecnologia, programação, o esporte e vídeo-game. Mas, neste momento, acendia outra paixão: a interação social.
#5: O primeiro emprego com tecnologia
Enfim acabou o terceiro colegial. Eu estava completamente ansioso para entrar na faculdade. Obviamente que não era por causa dos estudos, mas sim pela vida noturna.
Me decepcionei. Faculdade de tecnologia tem pouquíssima vida noturna. As festas, cervejadas e outras comemorações não chegam nem perto das tradicionais festas da USP. Mackenzie, FAAP e outras famosas faculdades de São Paulo.
Só que essa falta de boas festas não foi nenhum impedimento para que eu seguisse curtindo a vida. Na falta de festas na minha faculdade, eu ia nas festas das outras faculdades. Problema fácil de ser resolvido.
Porém apareceu um segundo problema. Essa badalação custava caro, e o meu salário como auxiliar de escritório, na época, não estava conseguindo suprir minhas necessidades.
Foi quando eu decidi procurar um estágio. Com menos de um ano de faculdade eu já estava trabalhando em uma empresa de desenvolvimento de software. Foi a melhor coisa que podia acontecer comigo naquele momento.
Eu entrei como estagiário no suporte técnico, e passei a dedicar seis horas do meu dia fazendo uma das coisas que eu mais gostava: resolver problemas. Mais legal ainda era resolver problema usando tecnologia e programação.
Esse foi um dos pontos de inflexão na minha vida pois foi a primeira vez que toda a tecnologia que eu amava aprender estava, de fato, sendo útil.
Fiquei menos de um ano no suporte técnico. Acabei migrando para a área de desenvolvimento. Lá eu conheci Python, ainda na versão 2.7, e Django, ainda antes da versão 1.3.
Foi naquele momento que eu reacendi minha paixão por tecnologia e desenvolvimento de software e conheci, e me apaixonei, pela linguagem que iria usar pelos próximos 10 anos.
#6: O primeiro emprego da vida real e o despertar para a realidade
Eu fiquei cerca de 3 anos no meu primeiro emprego como programador. Foi uma época muito boa onde eu me desenvolvi muito, tanto como profissional, mas também como pessoa. Fiz muitos amigos por lá e tenho uma enorme saudade daquela época.
Acontece que chegou um momento que eu comecei a me sentir preso. Já não tinha novos desafios. Já não aprendia nada de novo. Sem contar que a empresa era praticamente uma repartição pública. Não havia cobrança, não haviam prazos, não havia pressão.
Foi quando eu decidi procurar um novo emprego. E achei. Fui trabalhar em um projeto ambicioso. Construir um appliance de segurança. De repente, tudo mudou. Eu passei a trabalhar com software embarcado, ao invés de web. Passei a trabalhar de roupa social. Passei a ganhar bem mais do que ganhava. Salário maior, bônus, benefícios.
Mas também passei a sofrer uma pressão gigantesca, que nunca tinha sofrido antes. Eram horas e mais horas extra. Uma responsabilidade gigante. Uma cobrança enorme.
De repente eu fui de um extremo a outro. E isso também me incomodou. Acabou que eu fiquei pouco tempo naquela empresa, cerca de menos de um ano.
Ainda sim sou muito grato por ter passado por essa experiência porque foi ali que eu descobri o quanto eu odiava outras pessoas definindo as minhas prioridades. A gota d’água foi quando eu tive que desmarcar minha viagem de ano novo para entregar um projeto que, no fim das contas, nunca foi pro ar.
Foi depois desse fato que eu decidi que iria trabalhar como freelancer. Ainda não sabia direito o que ia fazer, como ia fazer. O que sei é que fiz umas contas e vi que se eu conseguisse fazer um site em WordPress por mês eu conseguiria ganhar o mesmo salário.
Pedi as contas e, pela primeira vez na vida, passei a trabalhar como um autônomo.
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Por hoje, vou parar por aqui, pois o texto está ficando muito grande. Organizei 12 pontos que considerei importantes. Já lidei com 6. Na semana que vem falarei sobre a minha trajetória de freelancer até dono de fábrica de software.
Espero que a minha história sirva para te inspirar de algum modo, seja te dando insights do que fazer, seja te dando insights do que não fazer.