Imagine o seguinte cenário…

A empresa em que você trabalha tem a missão de desenvolver um novo software. 

Suponhamos que seu chefe organize suas finanças pessoais em planilhas e softwares de controle financeiro. Ele tem um bom conhecimento sobre o assunto. 

Nos seus momentos de organização ele sente uma dificuldade em específico: o software que ele usa, por não ser indicado a pessoas com nível básico de conhecimento contábil, não possui um aplicativo.

Ele já procurou pela Apple Store inteira. ContaAzul, QuickBooks, etc, nenhum deles atende o seu objetivo. 

Depois de fuçar em todos, ele não encontrou nenhum software que implementasse bem o Método de Partidas Dobradas (não cabe aqui explicar, a idéia é só ilustrar um cenário. Mas, caso tenha interesse sobre o assunto, recomendo esta leitura).

Foi então que ele decidiu que irá criar um concorrente a todos os aplicativos de organização financeira pessoal. Se chamará DoubleAccount.

Com a ideia em mente, ele reune a equipe de desenvolvimento e, juntos, começam a desenhar o produto.

Depois de dois dias inteiros de planejamento, surge o escopo da primeira versão do projeto. Foram definidos vários módulos: Cadastro de usuário; Cadastro de contas; Níveis de permissionamento; cadastro de transações; relatórios; integrações com todos os bancos; sugestão de empréstimo para pessoas que estão com as contas desequilibradas; compartilhamento de contas.

Ufa… contei aqui, por baixo, sete módulos.

A ideia é desenvolver um produto inovador, diferente de tudo o que o mercado já viu. O produto será tão bom, mas tão bom, que explodirá em seu lançamento. A sua divulgação será algo viral.

Parece o cenário perfeito, né?

Pode até parecer, mas não é!

Você não sabe o que as pessoas precisam

Eu já falei por aqui sobre como priorizar de forma eficiente. A ideia agora é subir um pouco mais o nível de abstração e discutir sobre como planejar de forma eficiente.

Este cenário não é perfeito. Pra ser bem sincero, ele é um cenário desastroso.

A chance de tudo isso dar errado é GIGANTE (pra não dizer certeiro).

Sabe por que?

Porque seu chefe não sabe o que o mercado precisa.

Steve Blank, um grande empreendedor americano, disse certa vez:

“Nenhum plano sobrevive ao primeiro contato com os clientes”

Quando estamos planejando um software (uma empresa, uma ideia, um produto ou qualquer coisa que o valha), nós estamos, na realidade, levantando hipóteses. 

No nosso cenário existem várias hipóteses. A primeira delas é:

“As pessoas precisa de um aplicativo de organização financeira pessoal que se baseie no método de partidas dobradas”

Depois, vemos mais algumas:

“As pessoas precisam de relatórios sobre suas finanças pessoais”

“As pessoas precisam de integrações automáticas com seus serviços de banco”

“As pessoas precisam compartilhar suas informações financeiras com seus familiares e amigos”.

Essas são algumas. Existem outras.

Porque eu as chamo de hipóteses? Porque você acha que sabe o que elas precisam. Achar não é ter certeza.

Agora, pensa comigo… 

Olhando o cenário perfeito, seu chefe desenvolveria um ótimo software que seria tão útil que seria utilizado por milhões de pessoas e ele seria rico.

Mas, olhando um cenário um pouco menos otimista, seu chefe gastaria tempo e dinheiro construindo um software que ele acha que as pessoas querem, e quando ele fosse para o mercado, ele descobriria que na verdade as pessoas não querem aquilo.

E agora? Tempo e dinheiro no lixo.

Mas, como evitar isso?

Interaja com o mercado o mais rápido possível

O exemplo que eu dei pode parecer meio caricato, até exagerado. Mas, saiba de uma coisa: isso acontece no mundo de tecnologia todos os dias.

Não foram poucas as vezes que pessoas me procuraram querendo desenvolver um software gigantesco, cheio de funcionalidades complexas (e caras) sem ter nenhuma hipótese validada.

Isso gera desperdício de recursos.

A melhor forma de mitigar esse risco é interagir com o mercado o mais rápido possível.

Valide a sua hipótese antes de investir tempo e dinheiro implementando. 

Mas como?

Existem diversas fórmulas.

Faça um questionário e peça para pessoas que representam seu público-alvo responder.

Faça anúncios no Facebook, ou Google, que leve a uma página que simule a venda do seu produto. Meça quantas pessoas clicaram no anúncio, quantas pessoas clicaram no botão de compra. Inclusive aproveite para coletar informações de contato dessas pessoas. Elas têm um enorme potencial de serem suas primeiras clientes.

No fim das contas não existe uma fórmula exata. Aqui cabe o uso de sua criatividade.

O importante é tomar decisões baseadas em dados concretos, e não no seu achismo. 

PS: Também fiz um vídeo em meu canal sobre o assunto. Te convido a assistir e participar da discussão por lá.